Foliões ignoram recomendação, vão às ruas e festejam carnaval em BH

Bairro Santa Tereza, na Região Leste, contou com cortejo de bloco que se diz ‘independente’. Sem apoio da prefeitura, não houve trio elétrico ou caixa de som

Carnaval de rua no Bairro Santa Tereza
Multidão se aglomera e sai em desfile pelas ruas do bairro Santa Tereza(foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)
Surpreendente foi o primeiro dia de Carnaval em Belo Horizonte de 2022. Sem nenhum anúncio prévio ou convocatória de foliões, teve sim festa colorida com bateria e muita alegria na cidade.
Neste sábado (26/2), centenas de pessoas se reuniram no Bairro Santa Tereza, Região Leste de BH, para celebrar o primeiro dia do feriadão. A festa aconteceu mesmo com a recomendação do Comitê de Enfrentamento da COVID-19 de que não houvesse carnaval de rua este ano, em função da pandemia.

A reportagem do Estado de Minas acompanhou a festa, que segundo integrantes que não se identificam, é um “movimento independente”. A multidão de foliões concentrou na Praça Duque de Caxias, e saiu em cortejo improvisado pelas ruas do bairro.

Sem apoio ou oficialização do bloco, os participantes enfrentaram na cara e na coragem: sem trio elétrico, carro ou caixa de som. São apenas músicos acostumados com o carnaval que levaram seus instrumentos para agitar a folia e arrastar o público caminhando com axé e dança.

No meio da alegria e festejo, infelizmente, ver alguém com máscara facial – proteção essencial para conter a pandemia do coronavírus – foi uma cena rara em meio à aglomeração.

Não houve qualquer estrutura, como banheiros químicos e desvio de trânsito pela BHTrans, já que, oficialmente, o carnaval foi cancelado. Policiais militares que passaram próximo ao bloco disseram que estavam apenas acompanhando e não iriam interferir enquanto não recebecem ordens.
Em nota, a prefeitura afirmou que “para a fiscalização no período de carnaval, a Prefeitura de Belo Horizonte instituiu 96 equipes de fiscalização Integrada, que contam com fiscais de posturas, guardas civis e agentes de fiscalização sanitária”. E completou: “essas equipe atuam em apoio as demandas do Centro Integrado de Operações, no atendimento de denúncias e na verificação de áreas de comércio e o uso de espaços públicos”.
Em 26 de janeiro, o Prefeito Alexandre Kalil (PSD) anunciou que não haveria carnaval em Belo Horizonte. Na ocasião, o gestor municipal fez apelo para que lojas abram no período que seria de feriado prolongado, a fim de evitar a expansão de casos do coronavírus.

Protesto

A arquiteta Joseana Costa, de 44 anos, descreve bem como está o carnaval este ano: uma surpresa. “Um carnaval surpreendente e imprevisível, como a vida”, afirma, feliz pelo clima “gostoso”. “Carnaval pra mim é uma festa onde a gente consegue ocupar a rua, comemora a vida, ocupa espaço público”, acrescenta. Com fantasia colorida e sem tirar o sorriso do rosto, Joseana diz que participar da festa improvisada na rua é “uma resistência ao carnaval particular autorizado”.
O professor Wudson Carvalho, de 39, diz que só se sentiu seguro em participar da festa pois já garantiu as três doses da vacina contra a COVID-19. “Além de já me sentir protegido, fico pensando: os eventos pagos estão liberados. Acho que tinha que liberar todos ou não libera nenhum”, reclama.
Ele conta que mora em Itabirito e, mesmo sem saber de nenhum bloco com antecedência, preferiu vir a BH e ficar de “sobreaviso”. “Dentro das possibilidades está gostoso, divertido. Só estou achando que poderia ser bem melhor porque foi proibido. A gente podia ter todos os blocos e inclusive escolher, mas infelizmente não tivemos muitas opções este ano”.

Refrescos na folia

Enquanto o bloco secreto pegava fogo, quem refrescava os foliões era Jovita Queiroz Rodrigues, de 81 anos, contente em poder acompanhar a festa da varanda de casa. “Depois de dois anos, matei a saudade”, confidencia. “Hoje fui pegar de surpresa. Mas todo ano eu fico aqui esperando o bloco passar. O povo adora.”

Entenda

A Prefeitura de Belo Horizonte não proibiu expressamente o carnaval de rua na cidade, mas também não ofereceu apoio financeiro ou liberou alvará para as festas ocorrerem. Por outro lado, autoizou a realização de festas privadas contando que sejam cumpridas medidas de segurança – como a exigência de documentos que comprovem o teste negativo de COVID-19 ou a vacinação contra a doença.

Nesta semana, o Ministério Público chegou a entrar com o pedido na Justiça após questionar o município quais medidas contra a COVID-19 seriam adotadas nas festas de carnaval marcadas para ocorrer na cidade.

A prefeitura informou, segundo o MP, que não iria apoiar financeiramente qualquer evento nem impediria que eles ocorressem.
O MP ressaltou que o Comitê de Enfrentamento à COVID-19 emitiu nota técnica de que não era o momento de trazer milhões de pessoas em curto espaço de tempo para a capital.
“A prefeitura é obrigada a recorrer, não podemos ter interferência assim. Vamos ao Tribunal de Justiça. É uma decisão, temos que respeitar, mas vamos tentar derrubar”, afirmou o prefeito Alexandre Kalil (PSD), em entrevista coletiva durante visita às obras de contenção de enchentes na Avenida Vilarinho.
A declaração foi feita após o juiz Wauner Machado acatar parcialmente pedido do Ministério Público de Minas Gerais e proibir a realização dos eventos.

Logo depois, a Justiça acatou o recurso da PBH e suspendeu tal decisão, voltando a valer os protocolos definidos pela prefeitura.