“Sério que, entre ladrão de um lado e ladrão do outro, a culpa é do juiz?”, pergunta Moro

TCU apura possível divergência em valores pagos a Moro

Sérgio Moro deixa no ar uma pergunta sobre a polarização

Ingrid Soares
Correio Braziliense

O ex-juiz e pré-candidato à presidência, Sergio Moro (Podemos) afirmou nesta terça-feira (22/02) que o ministro da Economia, Paulo Guedes é um liberal em um governo “iliberal”. A declaração ocorreu durante evento da BTG Pactual ao explicar a diferença entre sua agenda econômica e a do governo Bolsonaro.

“A agenda do Paulo Guedes é uma, a do presidente é outra. O Paulo Guedes é um liberal que está num governo ‘iliberal’, não tem como funcionar. É a mesma situação que eu estava no governo: minha agenda era, entre outras, anticorrupção. Eu entendo que enfrentava resistência no Congresso. Eu aceito que enfrentava resistência no Supremo. Mas se um ministro não tem apoio e, ao contrário, tem sabotagem do presidente, você não consegue nem conversar. Foi o meu caso na agenda anticorrupção.”

SEM ILUSÕES – Moro defendeu ainda que é “ilusão” acreditar que, em uma eventual reeleição, Bolsonaro seja reformista e disse acreditar que as mesmas não vão sair do papel, incluindo a reforma administrativa.

“Essas ilusões já caíram por terra. Se alguém acredita que um segundo mandato do presidente vai ser reformista, acho que não aprendeu nada nesses três, quatro anos. Não é [um governo] reformista, não é isso que bate no coração do presidente Bolsonaro. Então não adianta o Paulo Guedes vir aqui falar de um monte de reforma que não vai sair”, disse, acrescentando:

“Sou muito diferente de Bolsonaro e Lula. Em primeiro lugar, tenho por pressuposto que vivemos numa democracia. Não devemos nem de um lado ou outro, intimida-la ou corrompê-la”.

SERÁ REFORMISTA – Ele ainda destacou que, caso eleito, será de fato um “reformista”. “A principal diferença é que meu projeto é reformista. Não quero nem revogar nem abandonar reformas. Temos no nosso DNA as reformas que precisam ser feitas para a gente voltar a crescer. Não crescemos há muito tempo porque estamos parados, sem lideranças reformistas. O último presidente que fez reformas foi o Fernando Henrique Cardoso [PSDB]. Eu tenho defendido três reformas: tributária, administrativa e ética”.

Como promessas de campanha, destacou o corte de privilégios como o fim do foro privilegiado, assim como o fim da reeleição de presidentes da República.

“A gente pode dizer que é um compromisso escrito na pedra: fim da reeleição de presidente da República”. “Vamos acabar com o foro privilegiado para todo mundo, inclusive para o presidente. Às vezes, existem excessos, mas esses problemas não justificam excesso. O foro tem servido como blindagem para gente que faz coisas erradas”.

PRIVATIZAÇÃO – Moro se disse favorável a privatizar “o que for possível”, desde que não troque o monopólio público por um privado. “A minha posição é muito clara. Não tenho nenhum preconceito contra a privatização. Em princípio sou favorável a privatizar tudo o que for possível. Não é um tema que a gente pode tratar da perspectiva ideológica. Não obstante, o que nós temos que analisar é se funciona do ponto de viabilidade econômica”.

“Privatização não pode resultar no monopólio privado em substituição ao monopólio público”, continuou, emendando que seu programa econômico ainda está em construção liderado pelo economista Affonso Celso Pastore.

Ele criticou o texto da reforma administrativa, caracterizando-o como “péssimo” e defendeu meritocracia no funcionalismo público. “A ideia é colocar a meritocracia dentro do serviço público. O foco de uma reforma nunca é demitir servidor, é incentivar. Precisa criar um regime de incentivo, treinamento e capacitação para estimular os bons servidores”, disse.

BALA DE PRATA – Por fim, disse que é essencial que tenhamos âncora fiscal. “Não existe uma bala de prata que resolve todos os problemas da economia, o que a gente precisa fazer é planejamento, dedicação e esforço, mas também precisamos fazer reformas. Precisamos fazer para mexer também na administração pública, na parte executiva, e a gente consegue começar a avançar. É essencial que nós tenhamos uma âncora fiscal. A gente precisa sim de responsabilidade social, a gente precisa fazer a economia voltar a crescer”.

Mais cedo, pelas redes sociais, defendeu que “entre o petrolão e a rachadinha, não há escolha possível”.

“Sério que, entre um ladrão de um lado e um ladrão do outro, a culpa é do juiz? Entre o petrolão e a rachadinha, não há escolha possível. Precisamos, sim, reformar nosso sistema de justiça para que casos de corrupção não fiquem impunes”, escreveu.