Xô, corruptos! Por Antonio Magalhães

Por Antonio Magalhães – Jornalista

Chegou a hora do eleitor brasileiro ser intolerante com os corruptos. Não tem essa de “rouba, mas faz”. De votar em pessoas com a ficha suja só porque há compromissos ideológicos ou pessoais. A corrupção afeta diretamente o bem-estar dos cidadãos ao diminuir os investimentos públicos na saúde, na educação, em infraestrutura, segurança, habitação, entre outros direitos essenciais à vida, e fere a Constituição ao ampliar a exclusão social e a desigualdade econômica.

Geralmente, a corrupção ocorre por meio de recursos dos orçamentos públicos da União, dos Estados e dos Municípios destinados à saúde, à educação, à previdência e a programas sociais e de infraestrutura, que são desviados para financiar campanhas eleitorais, corromper funcionários públicos, ou mesmo para contas bancárias pessoais no exterior.

Mas muitos vão dizer que é uma prática secular no País, culturalmente enraizada desde a chegada dos colonizadores portugueses. Até a Operação Lava Jato houve uma leniência da elite judiciária, política e econômica em corrigir os malfeitos da roubalheira nacional. Quando procuradores e magistrados se reuniram para atuar contra a corrupção, com apoio da população, se chegou a um resultado positivo no combate aos corruptos.

Dezenas de figurões, empresários e políticos, foram presos, amargando penas de 1.200 anos, jamais cumpridas na integridade diante de artimanhas jurídicas que levaram à liberação da maior parte dos ladrões do dinheiro público, do dinheiro do contribuinte.

Mas não se pode desistir diante desses obstáculos porque casos de um passado distante e mais recente terminaram impunes. Veja o exemplo do ex-governador paulista Ademar de Barros nos anos 1950/1960 que enriqueceu o anedotário da roubalheira.

Um dos slogans de campanha eleitoral de Ademar de Barros, não assumido abertamente, era “Ademar rouba, mas faz”, que, apesar de ser uma frase cunhada por seu adversário Paulo Duarte, acabou por ser o lema de sua campanha eleitoral para prefeito de São Paulo, em 1957, se promovendo em cima das inúmeras acusações de corrupção, na época chamadas de “negociatas”.

Era acusado também de desvio de verbas públicas nos períodos em que era chefe do executivo paulista. E quanto a desvio de verbas, seus adversários diziam que existia a “Caixinha do Ademar” para financiar suas campanhas eleitorais. Em resposta à crítica, os ademaristas tinham um refrão muito popular, composto por Herivelto Martins e Benedito Lacerda: “Quem nunca ouviu falar?/ Na famosa ‘caixinha’ do Adhemar./ Que deu livros, deu remédios, deu estradas./ Caixinha abençoada!”

Mesmo depois de falecido, Ademar foi alvo de escândalo: em 18 de junho de 1969, membros do movimento guerrilheiro VAR-Palmares, organização de Dilma Rousseff, assaltaram, na cidade do Rio, um suposto cofre de Ademar, localizado na casa de sua ex-secretária Anna Capriglione, que teria sido, segundo algumas versões, sua amante.

O episódio ficou conhecido como o “Caso do Cofre do Ademar”. O valor subtraído, que, segundo ex-membros da VAR-Palmares, contaram à Revista IstoÉ, foi de 2,596 milhões de dólares, equivalente hoje a 18 milhões de dólares. Anna Capriglione, porém, declarou à polícia carioca que, no cofre, achavam-se apenas documentos.

Ademar de Barros nunca perdeu votos populares por seu comportamento corrupto. Do mesmo modo, seu filhote Paulo Maluf, ex-governador de São Paulo, elegeu-se e reelegeu-se para cargos variados com o voto popular. Na eleição mais importante para ele, a de Presidente da República, em 1985, foi derrotado por Tancredo Neves pelo voto indireto de parlamentares. E por toda sua vida carregou a fama de ladrão sem que isso atrapalhasse sua carreira.

Este ano acontecerá a eleição presidencial, no qual um dos concorrentes, o ex-presidente Lula, tem uma extensa ficha suja com condenações nas três instâncias do Judiciário por corrupção e lavagem de dinheiro. O jeitinho dos seus amigos do STF desfizeram os processos permitindo a sua candidatura.

Advogados amigos do dito cujo foram em sua ajuda no jantar em que ele apresentou seu possível parceiro de chapa, Geraldo Alckmin, ex-tucano que dizia horrores dele, inclusive a a volta de Lula à Presidência seria o retorno do criminoso à cena do crime. Coisas do passado. Esses defensores jurídicos, no jantar, glamourizaram o crime, o criminoso, a injustiça, a impunidade e a corrupção, segundo nota de repúdio de 1.143 ouros advogados.

O advogado Alberto Toron disse no evento que “Lula é o símbolo mais elevado da Justiça”. Já o advogado Antonio Cláudio Mariz afirmou que “se o crime já aconteceu, o que adianta punir, que se puna, mas que não se ache que a punição irá combater a corrupção”.

O ex-presidente foi condenado na Operação Lava Jato, chegou a ficar preso por 580 dias, mas foi solto após o Supremo Tribunal Federal ter mudado o entendimento sobre prisão após segunda instância. Posteriormente, o STF mudou o destino do condenado.

Portanto, cabe ao eleitor brasileiro reverter esta tendência histórica de ser tolerante com os corruptos. Não tem essa de votar de olhos fechados em quem rouba, sejam eles candidatos majoritários ou proporcionais. Pois, ladrão é ladrão. Corrupto é corrupto. Já basta! É isso.