Aos 100 anos, Brizola estaria contra Bolsonaro e ao lado da ciência, avaliam seus aliados

Leonel Brizola - Agência Sindical

Brizola, um político de verdade, que faz muita falta ao país

Ana Luiza Albuquerque e Catia Seabra
Folha

Se estivesse vivo, Leonel de Moura Brizola completaria 100 anos no próximo sábado (22). Convidados pela Folha a imaginar qual seria o seu posicionamento político hoje, familiares, aliados e líderes políticos do país afirmam, em sua maioria, que Brizola estaria ao lado da ciência e das vacinas e contra o negacionismo do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Nascido no povoado de Cruzinha (RS), Brizola foi deputado estadual e federal, prefeito de Porto Alegre e governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro. Sofreu três derrotas em eleições presidenciais —duas como cabeça de chapa, em 1989 e 1994, e uma como vice de Luiz Inácio Lula da Silva, em 1998.

LÍDER DO TRABALHISMO – Fundador do PDT (Partido Democrático Trabalhista), Brizola é considerado o herdeiro do trabalhismo antes simbolizado nas figuras de Getúlio Vargas e João Goulart, de quem foi aliado. Teve importante papel na Campanha pela Legalidade, em 1961, para garantir a posse de Jango, e tentou organizar a resistência ao golpe militar, em 1964.

Ferrenho inimigo do regime, Brizola foi para o exílio no Uruguai em maio do mesmo ano. Com a anistia, em 1979, voltou ao Brasil e se elegeu governador do RJ. Ocupou duas vezes o Palácio Guanabara. No estado criou os CIEPs (Centros Integrados de Educação Pública), voltados para o ensino integral, uma das principais marcas de sua gestão.

Com posicionamentos duros e um discurso afiado, Brizola movimentou paixões e por isso foi amado e odiado. Ele morreu vítima de um infarto, no Rio de Janeiro, em junho de 2004.

A TRAJETÓRIA DE BRIZOLA

22 de janeiro de 1922 – nasce Leonel de Moura Brizola no povoado de Cruzinha, no Rio Grande do Sul

1945 – Brizola ingressa no PTB (Partido Trabalhista Brasileiro). Dois anos depois, elege-se deputado estadual pelo PTB no RS

1949 – Conclui os estudos na Escola de Engenharia da Universidade do Rio Grande do Sul

1950 – Casa-se com Neusa Goulart, irmã de João Goulart, sendo Getúlio Vargas o padrinho do casamento

1954 – Elege-se deputado federal pelo RS e, um ano depois, é eleito prefeito de Porto Alegre

1958 – Elege-se governador do Rio Grande do Sul

1961 – Comanda a chamada “cadeia da legalidade”, movimento de resistência para derrubar veto de ministros militares e garantir a posse do vice-presidente João Goulart, que estava em missão na China quando Jânio Quadros renunciou à Presidência

1962 – É eleito deputado federal pelo estado da Guanabara, hoje o Rio de Janeiro

13 de março de 1964 – Participa do Comício da Central, no Rio de Janeiro, ao lado do presidente João Goulart. O evento contou com cerca de 150 mil pessoas para defender as reformas de base

31 de março de 1964 – Tentou articular uma resistência ao golpe militar, recebendo Jango em Porto Alegre ao lado do general Ladário Teles, comandante do III Exército. Conclamou o povo gaúcho a pegar em armas e resistir, mas Goulart decidiu refugiar-se

Abril de 1964 – Nome de Brizola aparece na primeira lista de parlamentares cassados pela Ditadura Militar. Um mês depois, ele vai para o exílio no Uruguai

1977 – Uruguai decreta a expulsão de Brizola, alegando que ele havia violado as normas do asilo. Brizola vai para os Estados Unidos e, depois, para Portugal

1979 – Com a anistia, Brizola volta ao Brasil. O TSE concede ao grupo de Ivete Vargas a sigla PTB, reivindicada por Brizola. Derrotado, ele registra o PDT junto a aliados.

1982 – Brizola é eleito governador do Rio de Janeiro. Dois anos depois, entrega o Sambódromo

1985 – Marca da gestão Brizola, é inaugurado o primeiro Ciep (Centro Integrado de Educação Pública), conhecido como “brizolão”

1989 – Brizola é derrotado no primeiro turno das eleições presidenciais. No segundo turno, mesmo após desferir ataques contra Lula, passa a apoiá-lo. Fernando Collor vence as eleições

1990 – Brizola é novamente eleito governador do Rio de Janeiro, no primeiro turno

1992 – Brizola demora a entrar na campanha pelo impeachment de Collor

1994 – Após anos de desgaste com a Rede Globo, decisão do STJ concede direito de resposta de Brizola às acusações de “senil, bajulador e paranoico”, feitas em editorial do Jornal Nacional. O apresentador Cid Moreira é obrigado a ler a resposta de Brizola

1994 – Nomes de integrantes do PDT, entre eles o do vice-governador Nilo Batista, surgem em listas de supostas propinas pagas pela cúpula do jogo do bicho carioca a políticos

1994 – Brizola sofre acachapante derrota nas eleições presidenciais, ficando em quinto lugar. Fernando Henrique Cardoso (PSDB) é eleito

1995 – Ministério Público do Rio de Janeiro pede a prisão preventiva de seis pessoas, entre elas o ex-secretário de Saúde de Brizola, Astor de Melo, alegando a existência um esquema de corrupção na secretaria que teria gerado um rombo de mais de R$ 10 milhões

1998 – Brizola se torna vice de Lula na chapa que disputou a eleição presidencial naquele ano. Fernando Henrique foi reeleito. Anthony Garotinho foi o único governador eleito pelo PDT

2002 – Brizola disputa sua última eleição, concorrendo a senador pelo Rio de Janeiro, sem sucesso. Lula é eleito presidente, com apoio do PDT no segundo turno. Em dezembro de 2003, porém, o diretório nacional do partido, sob Brizola, declara independência do governo, determinando que seus filiados abandonassem os cargos. A direção estava insatisfeita com a pressão para votar matérias de cunho liberal que, segundo o PDT, afrontavam o programa eleito pelo povo

21 de junho de 2004 – Brizola morre vítima de um infarto, no Rio de Janeiro. Seu corpo é enterrado em São Borja, cidade onde também estão os túmulos de Getúlio Vargas e João Goulart

Fonte: CPDOC (Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil), da Fundação Getúlio Vargas