São os brasileiros que vivem no “império da necessidade” que irão decidir a eleição

João Gabriel de Lima
Estadão

Dois lances de xadrez marcaram o jogo da campanha eleitoral de 2022. O primeiro foi a saída de Geraldo Alckmin do PSDB. Se realmente for vice de Lula, teremos uma reedição do namoro tucano-petista da virada dos anos 1980/1990 – e vá para onde for, Alckmin, herdeiro de Mario Covas, sempre carregará um pedaço do PSDB consigo.

O segundo lance foi o anúncio da equipe econômica de João Doria – tucano que não se bica com Alckmin – incluindo nomes como Ana Carla Abrão, colunista do Estadão, Zeina Latif e Henrique Meirelles.

NA MÃO DO ELEITOR – Os políticos jogam seu xadrez, mas quem decide os pleitos são os eleitores. O que os leva, afinal, a escolher este ou aquele candidato?

Duas pesquisas do instituto Quaest ajudam a responder a essa pergunta. A primeira, tema de reportagem do Estadão, levanta os assuntos com os quais os eleitores estão preocupados. Os líderes são inflação e desemprego, que angustiam 41% dos brasileiros.

A questão mais presente nas eleições de 2018, corrupção, caiu para um distante quarto lugar, com 10% de respostas, atrás de pandemia (19%) e problemas sociais (14%). “Esperemos que o debate da próxima eleição se dê em torno de temas concretos e não da guerra cultural”, diz o cientista político Fernando Schuler.

AS MOTIVAÇÕES – A segunda pesquisa, divulgada na newsletter que o analista Thomas Traumann distribui ao mercado, mapeia o que leva à escolha de cada um dos cinco candidatos que lideram as pesquisas. Traumann observa que o eleitor de Lula é antes de tudo um saudosista – ele quer a repetição dos anos 2002-2010. Já os adeptos de Bolsonaro acham que o presidente não teve tempo para fazer o que precisava – resposta clássica de quem vota em candidato que busca a reeleição.

Sérgio Moro, como seria de esperar, atrai quem quer a volta do combate à corrupção nos moldes da Lava Jato. Os que declaram voto em Ciro Gomes e João Doria têm motivação personalista. Olham mais os candidatos do que suas propostas.

Os de Ciro mais que os de Doria. Na pesquisa, o governador paulista é também identificado com sua atuação no combate à covid.

FALTAM OS PROGRAMAS – Do cotejo das duas pesquisas conclui-se que os candidatos ainda não falaram claramente como irão resolver as angústias centrais dos eleitores – lembremos, inflação e desemprego.

Em tempos de covid e Bolsonaro, aumentou o número de brasileiros que vivem no “império da necessidade”, para usar a famosa expressão do presidente americano Franklin Roosevelt.

São eles os que mais sofrem com a derrocada da economia. São eles que decidem a eleição. É a eles que os candidatos devem apresentar soluções concretas.