Brasil precisa preservar a Amazônia para  conseguir alguma relevância no mundo

João Gabriel de Lima
Estadão

Uma campanha agressiva realizada em 2006 teve função civilizatória no Brasil. Na ocasião, o Greenpeace divulgou um estudo mostrando como a produção brasileira de soja contribuía para o desmatamento na Amazônia. Foi o ponto de partida para um pacto chamado “moratória da soja”, em que empresas produtoras de alimentos, como a Cargill, e cadeias de lanchonetes, como o McDonald’s, se comprometeram, respectivamente, a não desmatar e a não mais comprar insumos oriundos do desmatamento.

Deu certo. A agricultura brasileira da soja passou a crescer por aumento de produtividade. Quando precisou se expandir, segundo estudo da rede acadêmica Climate Policy Initiative, foi sobre pastagens, e não florestas.

É CRIME, MESMO – “A agricultura brasileira não precisa de novas terras, e ganhamos mais com a floresta em pé”, diz o economista Juliano Assunção, um dos autores do estudo.

Apenas em uma das cinco regiões do Brasil esse padrão não se verifica: o Norte, justamente onde se situa a maior parte da Amazônia. “Lá não se cortam árvores para instalar agricultura ou pecuária relevante. É crime mesmo, que tem que ser combatido”, diz Assunção.

O estudo mostra que o desmatamento – que nesta semana bateu novo recorde, segundo dados do Inpe – não gerou nenhuma atividade econômica importante na região. “Na Indonésia se desmata para produzir óleo de palma. No Brasil, o criminoso coloca bois em áreas griladas para fingir que tem alguma atividade econômica, mas não gera riqueza nem emprego”, afirma Assunção.

TRÊS ALTERNATIVAS – O que fazer, então, para criar emprego e riqueza na região? Assunção é um dos coordenadores do projeto Amazônia 2030 – que pretende, entre outras coisas, responder a esta pergunta. O Amazônia 2030 acaba de lançar estudo  que lista perspectivas, por exemplo, na produção de cacau, mandioca e mel. Os autores olham para os imensos desafios de desenvolver atividades produtivas numa região isolada, e propõem soluções.

A Amazônia foi assunto central na COP-26 de Glasgow. Consolidaram-se algumas convicções anunciadas nos estudos. A devastação da floresta não gera riqueza. O agronegócio não precisa invadir a Amazônia para crescer.

É possível criar atividades econômicas sustentáveis na região, embora seja desafiador. E campanhas ambientalistas agressivas ajudam a mover pactos que unem governos, setor produtivo e sociedade civil. Precisamos da Amazônia para ter alguma relevância no mundo, e só será possível mantê-la com a participação – mesmo que com uma parcela de conflito – de diversos atores.