Gustavo Guimarães
Site Mises
Campanha dos ambientalistas contra o uso do petróleo é irresponsável e está causando aumento da poluição mundial. A revista The Economist, em uma ótima reportagem, relata os eventos acima e mostra que os sintomas de uma profunda crise nos mercados de energia são globais.
Segundo a reportagem, o resultado deste bem-sucedido ativismo climático foi, paradoxalmente, o aumento no uso do carvão e das emissões de carbono (a eletricidade produzida pelo gás natural gera metade das emissões da produzida por carvão).
QUEIMANDO CARVÃO – China, Índia, EUA, Leste Asiático e Europa — todos estão minerando e queimando mais carvão para suprir a escassez de gás natural, especialmente no inverno.
O governo da China recentemente revogou todas as considerações ambientais para a exploração de carvão, ordenou que a produção fosse acelerada ao máximo possível, e impôs blecautes rotineiros devido à escassez de energia.
Especialistas sempre alertaram que o ativismo climático contra o gás natural geraria o efeito contrário. Oito anos atrás, o ativista Michael Shellenberger defendeu o fracking (método que possibilita a extração de combustíveis líquidos e gasosos do subsolo), argumentando que isso faria com que o gás natural se tornasse mais barato que o carvão. E foi realmente o que ocorreu nos anos seguintes. Porém, com o tempo, o fracking voltou a ser criminalizado. Essa redução da exploração, ao tornar o gás mais caro, diminuiu a possibilidade se abandonar o carvão.
PETRÓLEO BARATO – Ambientalistas também argumentam que petróleo barato aumenta seu uso. Só que o uso de petróleo é extremamente inelástico, dado que automóveis, caminhões e aviões dependem dele. Por outro lado, pouco óleo é utilizado para a produção de eletricidade, de modo que o gás natural é necessário para compensar a intermitência de energia solar e eólica.
A prova está nos dados. A fatia dos combustíveis fosseis na produção de energia global se mantém inalterada em 84% desde 1980. Considerando que as emissões na Europa e nos EUA declinaram neste período, isso deve majoritariamente à transição do carvão para o gás natural.
EUROPA MASOQUISTA – Se as coisas estão ruins na Ásia, na Europa, a situação beira o masoquismo. Com o inverno se aproximando, sem carvão e sem energia éolica (ventou pouco no continente), a Europa está totalmente dependente da Rússia. Mais especificamente, de Vladimir Putin.
A Rússia oferta metade do gás natural consumido pelo continente, o qual aquece casas e é a força-motriz da indústria. Embora Moscou esteja cumprindo seus contratos de longo prazo, o ‘The Wall Street Journal’ relata que Putin está se recusando a vender gás pelo preço vigente no mercado spot, cobrando mais caro.
Ainda segundo o jornal, outros oficiais do Kremlin fazem chantagem explícita: se os governos europeus aprovarem o marco regulatório do gasoduto Nord Stream 2, que vai da Rússia à Europa, a oferta de gás será mais abundante.
DUPLO INTERESSE – Moscou tem duplo interesse no gasoduto: de um lado, ele irá aprofundar a dependência energética da Europa em relação à Rússia; de outro, o gasoduto irá privar a Ucrânia (cujo governo é inimigo de Moscou) de continuar coletando tarifas sobre o gás que circula nos atuais gasodutos.
O Reino Unido e a União Europeia prometeram zerar suas emissões até 2050. Para isso, fecharam todas as suas minas de carvão e despejaram bilhões em projetos de energia solar e éolica. A Alemanha e vários outros países europeus praticamente baniram o fracking (que produz o gás natural).
Isso transformou os líderes europeus no equivalente a exploradores navais do século XVI, rezando por muitos ventos e sol aparecendo, uma vez que, no continente, os preços da energia dependem inteiramente da quantidade de energia dólar e eólica.
ENERGIA NUCLEAR – A Alemanha também se deu mal quando a chanceler Angela Merkel decidiu abolir toda a energia nuclear do país em uma reação exagerada ao acidente de Fukushima, em 2011. A última estação nuclear do país será desativada ano que vem.
A Comissão Europeia está agora debatendo se deve ou não classificar a energia nuclear como energia sustentável, o que poderia reduzir os custos de financiamento para projetos nucleares. Mas a Alemanha é contra.
Essa propensão da Europa a se autoimolar em nome de metas climáticas inalcançáveis — e, consequentemente, ficar totalmente à mercê de Vladimir Putin — é um dos maiores atos de autossabotagem da história. E, ainda assim, os líderes europeus se encontraram agora na Conferência Climática, para aumentar seu masoquismo energético.
BIDEN EMBARCOU – Já o presidente americano Joe Biden parece ansioso para não ficar atrás dos seus congêneres europeus. Seguindo pressões dos ambientalistas, Biden já revogou a licença para a construção do Gasoduto Keystone, que seria construído entre Alberta, no Canadá, e as refinarias do estado americano de Nebraska (de onde ele seria conectado à rede já existente de oleodutos nos EUA, chegando às refinarias do sul do Texas) e também vetou novos projetos de fracking no Alasca e em todas as terras federais do país.
Como resultado, os EUA voltaram a ficar dependentes energeticamente de outros país. “O presidente Biden efetivamente aceitou a ideia de que os EUA passarão a depender mais de petróleo estrangeiro”, observa o The New York Times.
“Sua administração vem pedindo à OPEC para aumentar a produção para ajudar a diminuir os preços do petróleo e da gasolina no país, ao mesmo tempo em que busca limitar o crescimento da produção de petróleo e gás no país”.
DEU NO NYT -Aumentar a dependência dos EUA em relação ao petróleo dos estrangeiros é uma medida que deixa nervoso até mesmo o The New York Times — que sempre defendeu a redução de investimentos em petróleo e gás.
O jornal recentemente alertou que “EUA e Europa podem se tornar mais vulneráveis às turbulências políticas daqueles países e aos caprichos de seus governantes”.
O masoquismo energético do Ocidente beira o inacreditável. Um movimento ambientalista radicalizado em conluio com políticos sem visão fez com que investir em prospecção e refino de petróleo se tornasse uma atividade extremamente arriscada do ponto de vista financeiro.
MAIS POLUIÇÃO – Nenhuma empresa fará investimento de longo prazo — imobilizando capital e recursos escassos — em uma atividade que está cada vez mais criminalizada e que, dependendo do governo, pode até vir a ser proibida. Haverá menos consumo de gás natural e mais uso de carvão, aumento a poluição.
Sendo assim, a realidade será de cada vez menos oferta de combustíveis fosseis e preços cada vez maiores. Trata-se de um desastre autoinduzido, que foi gestado cuidadosamente.
Putin deve estar maravilhado com sua estratégica sorte.