Robalinho via saúde como meio de reduzir custos sociais

 

Por Fernando Castilho*

Guilherme Robalinho, que nos deixou na noite do sábado (23), era conhecido pelo trabalho como médico, secretário de saúde e um dos idealizadores da Hemobrás, mas nunca é lembrado como um profissional que fazia conta do dinheiro gasto com saúde e o quanto o estado poderia economizar com tratamento preventivo.

Robalinho costumava dizer que o Estado tinha que gastar com coisas básicas, como tratamento de água e esgoto, para não ter que gastar com remédio para as doenças decorrentes da inexistência de saneamento. E acreditava que informação era elemento estratégico para qualquer gestor.

Ele também era conhecido por defender a produção de remédio barato pelos laboratórios estatais, tendo demonstrado isso na prática quando fez do Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco (Lafepe) o segundo maior produtor estatal de medicamentos para o SUS.

Como foi o caso do Efavirenz, integrante do coquetel de tratamento da AIDS, fabricado pela Fábrica de Medicamentos da Fundação Oswaldo Cruz (Farmanguinhos) e pelo Lafepe depois da quebra da patente em 2007.

O Lafepe, por ação de Robalinho, implantou duas unidades de produção, a de Formas Farmacêuticas Sólidas (fábrica de comprimidos, cápsulas e remédios em pó) e a de anti-retrovirais, utilizados no combate à Aids em 2002.

Ele ajudou a reorganizar a empresa e abriu linhas de produção para coisas básicas como vitamina C para distribuição na rede oficial, saindo do alto custo desse produto pelos laboratórios privados. E, é claro, o pacote de remédios contra AIDS que virou uma marca do Lafepe.

O interessante da conversa com Robalinho era que ele sabia fazer conta para fazer o setor público economizar com remédio. Não se deslumbrava com instalações industriais, mas com o que o parque industrial entrega e a que custo.

Talvez isso venha dos tempos em que estava na Prefeitura do Recife, nas administrações de Jarbas Vasconcelos, onde literalmente tinha que se virar para arranjar formas criativas de fazer coisas simples.

Mas é importante observar que Robalinho era um médico que acreditava que Saúde está diretamente ligada a economia, ainda que atuasse em procedimentos simples como remédio de farmácia básica vendida na periferia como a rede que ajudou a criar no Lafepe como na alta complexidade que ajudou a trazer para os hospitais do Estado.

Ele também foi um dos profissionais que mais trabalhou para viabilizar o projeto da Hemobrás, defendendo o empreendimento pela via de economicidade.

Ele dizia que sangue é a matéria-prima de uma cadeia produtiva, que em países como o Brasil permite economizar bilhões, e trabalhou duro pelo projeto que acabou sendo localizado em Goiana.

Ele também se dizia frustrado por não conseguir fazer de Pernambuco um polo produtor de vacinas básicas como viraram a Fundação Oswaldo Cruz e o Butantã. Ele entendia que Pernambuco, pela sua importância no Nordeste e depois pelo Polo Médico, deveria estar nesse grupo.

De qualquer forma, é importante dar a ele esse crédito de ter ajudado a que a Hemobrás virasse um projeto nacional a despeito de todos os percalços que ela enfrenta até hoje. Até porque sofreu muito quando ela esteve relacionada a denúncias de corrupção.

Talvez a marca de Robalinho seja mesmo a de um secretário de saúde que falava mais de prevenção, saneamento básico e pouco de remédio de alta complexidade, embora nunca relegasse esse tipo de opção de atendimento.

Mas é que ele fazia conta do volume de dinheiro que como secretário precisava gastar em decorrência desse tipo de atenção básica.

E exatamente por isso que ele dizia que desinformação custa caro a qualquer país, mas que impacta mais nos mais pobres e em desenvolvimento. E lembrava que quando a China e a Índia se viram diante de oportunidades de se tornarem as manufaturas de classe mundial de insumos e equipamentos, fizeram disso uma estratégia de Estado. E que na pandemia da covid-19, essa decisão se mostrou fundamental.

O Brasil teve essa oportunidade, mas não aproveitou disso quando o país entrou em desespero durante a pandemia. “Essa rota passou pelo Brasil, mas os administradores não perceberam a importância”, disse o médico numa de suas últimas declarações.

*Titular da coluna JC Negócios, do Jornal do Commercio