Paulista: Cine Teatro Paulo Freire segue abandonado

 

Por Maria Clara Trajano

No coração da cidade do Paulista, Região Metropolitana do Recife, pulsa arte. Um amplo espaço abriga cenas de drama, que se arrastam em uma tragédia de longos anos. Os intervalos entre os atos do Cine Teatro Paulo Freire são marcados por um desprezo que parece não ter previsão para acabar, mesmo após a reportagem do Diario de Pernambuco em julho deste ano, o cine teatro continua abandonado. Desde maio de 1944, o espaço é o único aparato cultural público da cidade. Na última década, dentro do shopping center, surgiram o Teatro Experimental Roberto Costa e uma franquia da rede de cinemas Cinesystem — ambos privados.

Inaugurado 77 anos atrás, no declínio da Era Vargas e da Segunda Guerra Mundial, o Cine Teatro Paulo Freire, antes Cine Teatro Municipal, outrora conciliava o esplendor da alta sociedade paulistense, a efervescência da juventude que matava aula para assistir à sétima arte e a tranquilidade familiar ao reunir-se de casualidades dominicais à festividades. Hoje o teatro é palco da negligência e personifica um projeto de apagamento da cultura na cidade. Sem teto e sem letreiro, a construção foi invadida pela vegetação, e suas dependências cedidas por 20 anos ao Tribunal Regional Eleitoral.

Residindo há vinte anos no município, Zuleica Alencar (38) conta que esteve em um teatro apenas uma vez na vida — o Santa Isabel, no centro do Recife — mas que nunca teve a oportunidade de sequer entrar no teatro que existe em sua cidade, porque nunca o viu aberto por longos períodos. E ao cinema, foi apenas duas vezes, quando abriu uma franquia no shopping da cidade e nunca visitou o teatro do mall, assim como outros munícipes entrevistados.

A realidade é que um centro de compras não é o espaço ideal para concentrar toda a exibição cultural de uma cidade. “O shopping é um ambiente privado, que remete ao capitalismo, ao fenômeno da compra. Para levar os estudantes ao Teatro Experimental, até os próprios professores acabam encontrando dificuldades nesses ambientes”, pontuou Washington Machado, ator, diretor e conselheiro de cultura do município. Uma das parcelas mais prejudicadas com essa situação são os estudantes da rede municipal. Os dois filhos de Zuleica nunca estiveram em um teatro e vão ao cinema esporadicamente com os amigos, porque é caro demais para ir a família toda junta.

A falta de um aparelho cultural público na cidade limita o acesso dos cidadãos a um direito constitucional. “O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais”, diz o artigo 215 da Constituição. Quando a prefeitura não garante o cumprimento desta disposição, não afasta apenas os munícipes da cena artística, mas gera um êxodo cultural. Sem lugar para exercer suas profissões no próprio município, atores, diretores, cineastas e muitos outros migram para municípios vizinhos, onde existe um maior apoio à classe.

Além do abandono às artes materializado no Cine Teatro, o descaso com os artistas paulistenses vai além. O ator e conselheiro de cultura Vinícius Coutinho informou que desde que assumiu o mandato, em janeiro de 2021, o prefeito, Yves Ribeiro, e sua gestão, ainda não indicaram os oito nomes que devem compor o Conselho Municipal de Política Cultural do Paulista junto aos oito nomes da sociedade civil que já têm atuado desde a fundação do órgão, em 2019. Washington, além de confirmar, endossou que o acesso pleno ao Fundo Municipal de Cultura, que já é garantido por lei, hoje, depende apenas da abertura de um CNPJ e uma conta bancária sob esse número, mas a gestão também não demonstra interesse em fazê-lo.

A sugestão da Secretaria de Turismo, Cultura, Esportes e Juventude do Paulista é desfazer o Cine Teatro Paulo Freire — que não é tombado — para construir o Complexo Cultural Ariano Suassuna, uma obra “megalomaníaca”, nas palavras da historiadora e vereadora Flávia Hellen (PT). Entretanto, a reforma do teatro urge e não pode esperar por uma obra de 2 mil m² que se arrastará por anos. Além do que, a definição desse complexo foi idealizada sem a participação da sociedade civil, que é a mais interessada.

A matéria completa está disponível no Diario de Pernambuco.