“Não existe fora, sem dentro”. Por José Nivaldo Junior

 Por  José  Nivaldo  Júnior  – Consultor em comunicação,advogado,historiador, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras.  

A verdade eleitoral vale pouco para pessoas que, embora minoritárias, fazem muito barulho. Por exemplo: já tivemos dois plebiscitos sobre parlamentarismo. O primeiro ocorreu em pleno parlamentarismo. O caso foi o seguinte: Jânio Quadros (UDN) assumiu em janeiro e renunciou em agosto de 1961.

Na época, votava-se para vice, sem coligação com o presidente. João Goulart (Jango, como era chamado) pertencia ao PTB, vinha das fileiras getulistas. Encontrava-se no Exterior, em missão oficial à China. Mal visto por setores conservadores, sua posse só foi aceita depois de heroica resistência comandada pelo governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola. E ainda assim para um governo parlamentarista, a ser confirmado em plebiscito.

A VOZ DO POVO

Pois veio o plebiscito, em janeiro de 1963. Por mais de 80% dos votos o povo devolveu o mandato de Jango. O desfecho é outro caso. Depois da redemocratização, em agosto de 1993, aconteceu nova consulta sobre sistema de governo. Novamente, de lavada, o povo escolheu o regime atual.

No plebiscito de 1993, o Brasil disse não ao parlamentarismo e à monarquia e sim ao presidencialismo

INTELECTUAIS DESCONECTADOS

Setores da intelectualidade e da classe média que se julgam qualificados para decidir o que é melhor para o país nunca aceitaram o resultado. Não perdem oportunidade para reativarem a proposta parlamentarista. Sem levar em consideração que os eleitores já decidiram sobre o tema. Pessoas de cultura, experiência e inteligência tidas como privilegiadas não conseguem entender que, por vontade própria, o povo jamais abre mão de um direito que é seu. Pode até fazer mau uso dele, porém abdicar, jamais. Se fizerem 300 plebiscitos sobre isso, o resultado será o mesmo.

FORA PRESIDENTE

Outra forma de questionar o sistema democrático é não aceitar a decisão da maioria. Assim, mal tomam posse, os presidentes legítimos enfrentam o movimento Fora Fulano.

Foi assim com o Fora Collor, que acabou em impeachment. O sucessor nem esquentou a cadeira e já ouviu Fora Itamar. Depois veio o Fora FHC. Não houve fora Lula nem fora Dilma, no primeiro mandato. Após o impeachment de Dilma, foi Temer assumindo e começando o Fora Temer. Com Bolsonaro não podia ser diferente.

Protesto contra o presidente Jair Bolsonaro na Avenida Paulista, em São Paulo.

ISSO É ESQUERDA?

Nem vou discutir uma mudança revolucionária no Brasil de hoje. Não há clima para isso, nem pela direita nem pela esquerda. Uma revolução se legitima pela existência de condições históricas objetivas para sua efetivação. Não basta a vontade. A chamada correlação de forças no interior do sistema, repito, não favorece golpes. Mas em caso de bola dividida, só vejo danos para a esquerda em caso de ruptura institucional.

CONQUISTA DE TODOS

Acho que a democracia, com sua irmã gêmea, a liberdade, não deve ser questionada e sim aperfeiçoada. Os mecanismos de efetiva participação popular, ampliados. Mas de aventuras que possam por em risco o que foi conquistado, com sangue, suor e lágrimas, estou fora. Por isso, sempre que ouço Fora Fulano, pergunto : E dentro quem?

Pois até o gramado da esplanada sabe que em política não existe espaço vazio.
Dentro quem? Vacilou na resposta, não sabe o que está propondo.