Paulo Guedes tenta sempre enganar a opinião pública, mas só consegue iludir a si mesmo

Charge do Nando Motta (humorpolitico.com.br)

Pedro do Coutto

O ministro Paulo Guedes deu mais um show em matéria de negar a veracidade dos fatos, a exemplo de outras várias etapas de sua atuação à frente do Ministério da Economia, como foi o caso do final da tarde de terça-feira na reunião do Conselho de Saúde Suplementar.

Ele acusou a China de ter inventado o coronavírus e, além disso, distribuir a Coronavac sem considerar a maior eficácia da vacina da Pfizer. O ministro não sabia que a reunião estava sendo transmitida através da internet e gravada tanto pela imagem, quanto pelo som das palavras. Foi um desastre absoluto.

RETRATAÇÃO – Segundo o próprio Paulo Guedes disse, foi Bolsonaro quem o chamou, após conhecimento do desastre, para que tentasse repará-lo uma vez que o embaixador da China em Brasília havia manifestado sua perplexidade. Paulo Guedes então convocou uma entrevista coletiva e teve o desplante de dizer que o que ele disse foi mal interpretado e o que foi dito foi um erro, mas sem a intenção de atacar o país asiático.

Paulo Guedes, no fundo, só consegue iludir a si mesmo; todos viram o que ele pronunciou. Na imprensa a repercussão foi enorme. O Globo, a Folha de São Paulo e o Estado de São Paulo deram grande destaque ao assunto porque o absurdo foi tão grande que deixa estupefatas as pessoas que leem jornais e assistem noticiários das emissoras de televisão.

TROCA DE AUXILIARES – Na Folha de São Paulo, a reportagem foi de Ricardo Della Coletta; no Estado de São Paulo, de Mateus Vargas;  no O Globo, de Manuel Ventura, Geraldo Adoça e Jussara Soares, que realçaram também o fato de Paulo Guedes ter trocado seis auxiliares diretos, entre os quais o secretário do Tesouro Nacional, Waldery Rodrigues Júnior e apresentou como desculpa que as substituições em sua equipe foram uma resposta às pressões que ele recebe do Congresso Nacional para traçar os rumos econômicos do país.

Mais uma falsa afirmação do ministro. Ele não trocou titulares de sua equipe por pressão parlamentar, até porque os substitutos são também integrantes do Ministério da Economia. Assim, a transferência de responsabilidade quanto às mudanças não são verdadeiras.

Se fossem, os deputados e senadores teriam feito as indicações para as modificações ocorridas, investido seus representantes no universo econômico e financeiro. Nenhum deputado ou senador indicou qualquer nome para suceder aqueles que deixaram o governo.

POLITIZAÇÃO – Além do mais, dizer que fez substituições por pressão política é justamente o contrário do que ele sempre sustentou no sentido de não politizar a esfera técnica que o acompanharia em seu projeto global.

Aliás, falar em projeto global não é falar em Paulo Guedes, pois ele até hoje não apresentou nenhum projeto amplo capaz de sair do papel e das telas dos computadores para a realidade. O ministro da Economia, por exemplo, há um ano e meio anunciou que a Reforma da Previdência iria permitir uma economia anual de R$ 100 bilhões, o que iria redundar ao fim da década em R$ 1 trilhão.

Era de fato uma promessa impossível de cumprir, tanto porque o governo apresentou um déficit primário no ano passado e este ano as perspectivas são de outro fracasso.

SEM ACERTOS –  Com Paulo Guedes à frente da Economia, na minha opinião, o governo Bolsonaro não acerta uma, caminhando entre o Alvorada e o Planalto sem conseguir superar e demover os obstáculos tanto políticos quanto econômicos que lhe marcam o difícil caminho. Paulo Guedes dificulta ainda mais a atuação de Jair Bolsonaro.

Politizar a equipe econômica é um absurdo de tal porte que deixou atônitos os integrantes sobreviventes do grupo que não consegue navegar no rumo certo. Paulo Guedes, na realidade, conforme disse antes, só consegue iludir a si mesmo.

Na Folha de São Paulo, Fábio Pupo e Thiago Resende publicaram com destaque uma reportagem acentuando as palavras de Paulo Guedes que, uma vez proferidas no espaço, voltam-se contra ele próprio. Em cada lance de dados em Brasília, Paulo Guedes sai mais fraco do que antes na tentativa de colocar na sombra as imagens negativas que ele gera. Ele, enfim, é um ilusionista que tenta recorrer à mágica, uma vez que esta é exatamente o oposto da lógica.

CPI – Falta lógica, aliás, a todo governo. Vejam por exemplo o esforço que os bolsonaristas desenvolvem para tentar obstruir a CPI da Covid e as responsabilidades que permitiram que a situação alcançasse o patamar em que se encontra.

Se o governo estivesse firme ao lado da verdade não teria porque temer a investigação de seus atos. Mas não, ele age totalmente em sentido oposto. Quer bloquear a Comissão Parlamentar de Inquérito. Ela começa na próxima terça-feira e o primeiro a ser ouvido, como se esperava, será o ex-ministro Henrique Mandetta que tem muito o que falar. A situação do governo é péssima. Após as palavras de Paulo Guedes, acho que ficará ainda pior.