Possível aliada de Ciro, Marina Silva critica contratação do marqueteiro João Santana

Marina Silva afirma que marqueteiro João Santana representa a 'antítese do debate' Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo/21-11-2018

Marina não perdoa Santana pelos ataques na campanha

Sérgio Roxo
O Globo

Vista como possível apoiadora de Ciro Gomes na eleição presidencial do ano que vem, a ex-senadora Marina Silva criticou nesta sexta-feira o marqueteiro João Santana, contratado pelo PDT. Segundo a líder da Rede Sustentabilidade, Santana, que foi preso pela Operação Lava-Jato, “representa a antítese do debate, é a política vista como um produto a ser vendido a qualquer custo e sem limite ético”.

“Digo isso com conhecimento de causa por ter sido vítima desse tipo de estratégia em 2014, em ataques do PT, produzidos e operacionalizados por Santana. Portanto, jamais cometeria a incoerência de aceitar trabalhar com ele”, disse Marina, em nota após ser questionada se a contração do marqueteiro poderia dificultar seu apoio a Ciro.

MARKETING PERVERSO – Na eleição presidencial de 2014, Marina, que concorria pelo PSB e chegou a liderar a disputa, foi alvo de propagandas produzidas por Santana, responsável pela comunicação da campanha à reeleição da então presidente Dilma Rousseff.

Um dos vídeos do horário eleitoral petista falava sobre a proposta de Marina de promover a independência formal do Banco Central. No vídeo, a consequência era a retirada de comida da mesa de trabalhadores. No final, Marina acabou em terceiro lugar.

“Não tenho como responder por Ciro nem pelo PDT. Apenas eles podem falar por suas escolhas e seus motivos. Quanto a mim, desde 2014 venho repetindo que uma campanha política tem que ser baseada no debate aprofundado de programas para o Brasil. O marketing jamais deveria se sobrepor a isso”, afirmou Marina.

FAKE NEWS – “Permaneço na minha posição sobre a natureza de uma campanha política. Ou mudamos o foco ou continuaremos a ser engolidos pelo reinado das fake news e do vale-tudo”.

Em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, em fevereiro, a líder da Rede disse que Ciro tem “legitimidade” para liderar chapa alternativa a Jair Bolsonaro e ao PT, sugerindo se aliar a ele.

Fiel escudeiro de Marina e integrante do grupo que coordenou a campanha presidencial de 2014, Pedro Ivo Batista, ex-porta-voz da Rede (cargo equivalente ao de presidente em outros partidos), considerou “lamentável” a contratação. “A Rede não tinha e nem tem posição por candidatos agora. Queremos primeiro discutir o programa. Mas esse marqueteiro é um gol contra” — afirmou.

BELO SALÁRIO – Santana acertou contrato de um ano com o PDT, pelo qual receberá R$ 250 mil mensais. A ideia é que depois ele trabalhe na campanha presidencial de Ciro.

O marqueteiro foi condenado a oito anos e quatro meses de prisão na Lava-Jato por lavagem de dinheiro. Em 2017, fechou acordo de delação premiada e confessou ter conta na Suíça para receber caixa dois. Até outubro, cumpriu prisão domiciliar e estava proibido de trabalhar com política.

Agora, cumpre pena em regime aberto.