Grávidas e recém-nascidos em corredor de hospital

Do G1/PE

Acompanhantes de pacientes denunciaram, hoje, a superlotação na maternidade do Hospital Agamenon Magalhães, em Casa Amarela, na Zona Norte do Recife. Segundo quem esteve no local, o domingo foi “caótico”, com macas e berços colocados nos corredores.

“A situação é uma bomba-relógio. Se alguma pessoa infectada [com Covid-19] entrar lá, vai ser uma catástrofe. As mulheres ficam deitadas no corredor, sejam as grávidas ou as que acabaram de sair do bloco cirúrgico. O nível de descuido é uma coisa que nunca vi na minha vida”, declarou o analista de sistemas Jean Rei, que acompanhou uma paciente ontem.

O acompanhante também sentiu falta de protocolos sanitários contra a Covid-19 ou de segurança, para controle da entrada de pessoas na unidade de saúde. “Não pediram minha identificação e não mediram minha temperatura. Os acompanhantes entram lá com sacolas de supermercado, não tem um controle da higiene”, afirmou.

“Conversei com uma enfermeira e ela disse que a Maternidade Barros Lima [da rede municipal do Recife] fechou e está todo mundo indo para lá. Entendo a situação da saúde no momento, o estado em que se encontra o Hospital Agamenon Magalhães é uma situação surreal”, disse.

As mesmas queixas são da comerciante Lila Almeida, que, em vez de celebrar o nascimento do sobrinho-neto no domingo, se indignou com a superlotação na área de maternidade. “Quando a gente chegou lá no sábado [13] e conseguiu subir, notou uma quantidade exorbitante de pessoas. No domingo [14] pela manhã, meu sobrinho-neto nasceu. Na euforia, não olhei para nada, mas quando saí, colocaram a mãe dele na maca no meio do corredor e informaram que não tinha leito para ela ir com a criança”, afirmou a acompanhante.

A comerciante relatou, ainda, que há poucos trabalhadores de saúde para dar conta da demanda de pacientes. “As enfermeiras são poucas para a quantidade de mães que estão lá”, disse.

A técnica em segurança do trabalho Lenny Maria da Silva precisou acompanhar a irmã, que deu à luz no hospital. Só após o nascimento do sobrinho ela teve autorização para ir até o andar em que a irmã estava, mas disse não ter conseguido ficar. “Não tinham condições físicas. E lá no Agamenon tem uma área de Covid, então estamos vulneráveis”, afirmou.

“Está um caos. Eu fiquei totalmente desamparada, não tive direito a uma cadeira. Quando consegui uma, quebrada, não tinha espaço para colocar. Num espaço que não era para ficar obstruído, o corredor, havia 47 mulheres”, disse.

Resposta do hospital

Por meio de nota, a direção do Hospital Agamenon Magalhães (HAM) “reconheceu a grande demanda registrada na maternidade, mas ressaltou que o serviço, uma das principais referências estaduais, e diante do atual cenário de pandemia no País, vem garantindo o atendimento à população”.

Ainda segundo a unidade, “a demanda é motivada, principalmente, pela retração no atendimento de outras unidades da rede em decorrência do novo coronavírus”. O hospital informou que, “além da pouca oferta de serviços municipais especializados”, o Agamenon Magalhães realiza cerca de 350 partos por mês.

Sobre ações para melhorar a situação, o hospital disse que “vem adotando uma série de medidas na maternidade”. Entre elas estão, de acordo com a Secretaria de Saúde, a restrição de acompanhantes, “mediante diálogo com os familiares das pacientes, nos casos em que não é necessária a presença”.

Também estão sendo feitos mutirões de avaliação para altas hospitalares das pacientes e transferências de usuárias para outros setores.

“A Central Estadual de Regulação de Leitos também tem atuado para encaminhar pacientes para outras unidades, enquanto há a absorção das que já estão em atendimento”, disse o comunicado.