SÃO PAULO — O ex-prefeito Fernando Haddad colocou Ciro Gomes (PT) no rol de pré-candidatos de direita à Presidência da República ao lado de, entre outros, Sergio Moro, João Doria e Luciano Huck. A fala provocou reação e contribuiu para intensificar a divisão dentro da esquerda.

O presidente do PDT, Carlos Lupi, usou a irônia para rebater Haddad, em postagem no Twitter: “Estimado Fernando Haddad, Ciro tem um projeto de nação consolidado, profundamente nacionalista, defendendo os trabalhadores e os direitos sociais. Se isso não é ser de esquerda, o que é? Dar mais dinheiro aos bancos que FHC (Fernando Henrique Cardoso)?”

Lupi se referia aos lucros obtidos pelas instituições financeiras nos governos petistas de Lula e Dilma Rousseff.

Haddad listou Ciro como um candidato de direita durante entrevista à Rádio Band News FM de Manaus, na segunda-feira. Questionado sobre a fragmentação da esquerda, o petista respondeu:

— A direita tem o Ciro, Moro, Mandetta, Huck, Doria, qual é o problema? Isso tudo tem um ano e meio para se discutir. Não faz sentido inibir uma pessoa de se apresentar e conversar com a sociedade.

No começo de fevereiro, Haddad anunciou que Lula havia lhe pedido para colocar “o bloco na rua” e começar a rodar o país como pré-candidato do PT a presidente. O anúncio provocou reações em lideranças da esquerda, que consideraram que o lançamento de nomes não contribui para a união do campo.

Na entrevista de segunda-feira, Haddad voltou a defender que os opositores ao presidente Jair Bolsonaro façam um pacto para se unirem num eventual segundo turno em 2022. Em 2018, Ciro se recusou a apoiar o petista no turno final da disputa e viajou para a Europa.

— Para derrotar o Bolsonaro, temos que ter um pacto de todo mundo que é oposição ao apoiar quem for para o segundo turno. Esse é o pacto que tem que ser feito. E não o que foi feito em 2018, quando cada um foi para um lado e deixou o Bolsonaro ganhar.

Desde o segundo turno da eleição de 2018, Ciro e os petistas trocam ataques públicos. O pedetista chegou a se encontrar com Lula, em setembro do ano passado, para lavar a roupa suja, mas as conversas não progrediram.