Após ataques, Bolsonaro ameaça: ‘Se não tiver voto impresso em 2022, vamos ter problema pior que os EUA’

Bolsonaro afirma, sem provas, que houve fraude na vitória de Biden

Daniel Weterman e Matheus de Souza
Estadão

Após extremistas invadirem a sede do Legislativo americano para interromper a confirmação da eleição nos Estados Unidos, o presidente Jair Bolsonaro voltou a levantar dúvida sobre a confiabilidade do sistema eleitoral brasileiro e a pressionar pela instituição do voto impresso. Sem citar diretamente o ataque ao Capitólio, Bolsonaro afirmou que o modelo eletrônico pode levar o Brasil a ter um problema pior que os EUA.

Novamente sem qualquer referência a provas que possam sustentar suas afirmações, Bolsonaro repetiu que houve fraude nas eleições americanas. As declarações foram feitas em uma conversa com apoiadores, em frente ao Palácio da Alvorada, na manhã desta quinta-feira, 5. Nos Estados Unidos, a invasão ocorreu após um discurso do atual presidente, Donald Trump, em que ele prometeu que jamais admitirá a derrota eleitoral. Apesar do ataque, o Congresso confirmou a vitória do democrata Joe Biden.

AMEAÇA – “O pessoal tem que analisar o que aconteceu nas eleições americanas agora. Basicamente qual foi o problema, causa dessa crise toda? Falta de confiança no voto. Então lá, o pessoal votou e potencializaram o voto pelos correios por causa da tal da pandemia e houve gente que votou três, quatro vezes, mortos votaram, foi uma festa lá. Ninguém pode negar isso daí”, disse Bolsonaro. “E aqui no Brasil, se tivermos o voto eletrônico em 2022, vai ser a mesma coisa. A fraude existe.”

Na conversa com apoiadores, Bolsonaro fez referência à falta de apresentação de provas sobre a acusação de fraude nas eleições americanas. O chefe do Planalto declarou que não responderia mais à imprensa, a quem chamou de “canalhas”. Mais uma vez sem apresentar provas, o presidente voltou a alegar que as eleições de 2018, da qual saiu vencedor, registraram fraudes que lhe tiraram uma vitória em primeiro turno.

“PROVAS” – Durante visita aos Estados Unidos, em 9 de março do ano passado, o próprio Bolsonaro disse que apresentaria provas de que as eleições de 2018 foram fraudadas, o que nunca fez. A tese de fraude já foi rebatida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que garantiu a segurança da urna eletrônica. “Se nós não tivermos o voto impresso em 2022, uma maneira de auditar o voto, nós vamos ter problema pior que os Estados Unidos”, disse o presidente.

Bolsonaro ainda reclamou do fato de Trump ter suas contas em redes sociais bloqueadas ontem após o americano elogiar os apoiadores que invadiram o Capitólio e fazer afirmações sem provas de fraude nas eleições do país. “Bloquearam o Trump nas redes sociais, um presidente eleito. Ainda presidente, tem suas mídias bloqueadas”, disse o presidente brasileiro.

“LIGADO A TRUMP” – Na noite de ontem, ao interagir com apoiadores no Palácio da Alvorada, Bolsonaro citou ser “ligado a Trump” ao justificar os atos de vandalismo no Legislativo americano às suspeitas levantadas pelo presidente americano.

A declaração destoou do que tom adotado por autoridades dos poderes Legislativo e Judiciário brasileiros, que condenaram a invasão nos EUA. O presidente do Congresso, Davi Alcolumbre (DEM-AP), chamou o episódio de tentativa de insurreição e disse que o protesto é inaceitável.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), chamou o caso de “desespero de uma corrente antidemocrática que perdeu as eleições”.