LITERATURA – Sagração – Carlos Drummond de Andrade

Carlos Drummond de Andrade

Sagração

Carlos Drummond de Andrade

Rocinante
pasta a erva do sossego.

A Mancha inteira é calma.
A chama oculta arde
nesta fremente Espanha interior.

De giolhos e olhos visionários
me sagro cavaleiro
andante, amante
de amor cortês a minha dama,
cristal de perfeição entre perfeitas.

Daqui por diante
é girar, girovagar, a combater
o erro, o falso, o mal de mil semblantes
e recolher, no peito em sangue,
a palma esquiva e rara
que há de cingir-me a fronte
por mão de Amor-amante.

A fama, no capim
que Rocinante pasta,
se guarda para mim, em tudo a sinto,
sede que bebo, vento que me arrasta.