Associação Brasileira de Jornalismo diz que porta-voz da PM incita população contra repórteres

A oficial acusou repórter de agir de “forma maldosa” e de se aproveitar “da comoção nacional para colocar a população contra a Polícia Militar. O Globo e Extra repudiaram ataques da PM a jornalista.

Do Globo
Em um vídeo divulgado nesta terça-feira, no Twitter oficial da Polícia Militar, a tenente-coronel Gabryela Dantas, porta-voz da corporação, atacou o repórter Rafael Soares, do GLOBO e do Extra, autor de uma reportagem sobre o aumento do número de descarte de munição usada por policiais do 15º BPM (Caxias). A oficial diz que o jornalista agiu de “forma maldosa” e que se aproveitou “da comoção nacional (uma referência à morte de duas meninas em Caxias, por bala perdida) para colocar a população contra a Polícia Militar”.
Em nota, a Editora Globo, que publica os dois jornais, repudiou o vídeo em que a porta-voz classifica o jornalista como inimigo da corporação e ainda incentiva a população a divulgar a gravação. Afirma que “faz parte da prática jornalística diária lidar com críticas, contestações e pedidos de reparação de alguma informação”. Acrescentou, no entanto, que “não é papel de uma instituição de Estado atacar pessoalmente um profissional nem incitar a população contra ele”.

Os dados da reportagem criticada pela PM constam de documento produzido pelo próprio batalhão da PM de Caxias. O jornalista, amparado em tais documentos, ouviu e registrou a versão da Polícia Militar sobre os números.

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) também repudiou o vídeo. “Incitar a população contra o jornalista mostra não só falta de respeito à liberdade de imprensa, mas claro objetivo de intimidar o repórter. O governo do Rio (@claudiocastroRJ), cujo logotipo assina o vídeo, deve informar se concorda com esse tipo de recurso de ameaça à imprensa”, postou a entidade, no Twitter. O Palácio Guanabara não se manifestou sobre o caso.

Policiais do 15º BPM são investigados pelas mortes das meninas Emilly, de 4 anos; e Rebecca Santos, de 7, atingidas por um tiro de fuzil quando brincavam na porta de casa, na última sexta-feira, em Caxias. A PM nega que os cinco policiais que estavam de plantão no dia do crime tenham feito disparos, mas os fuzis e as pistolas que eles usavam foram apreendidos e enviados para perícia. Parentes das meninas afirmam que o tiro que as matou foi disparado por um policial militar. Um projétil encontrado no corpo de umas vítimas pode ajudar a esclarecer de que arma partiu a bala.