Tragédia de Mariana vira tema de livro de fotógrafa mineira sobre o crime socioambiental

Tragédia de Mariana vira tema de livro de fotógrafa mineira sobre o crime socioambiental

15:30, de Isis Medeiros, documenta em 71 imagens o rompimento da barragem da Samarco e BHP em Minas Gerais e os impactos nos atingidos e na natureza

Livro de Isis Medeiros mostra o crime ambiental em Mariana em 71 imagens
Livro de Isis Medeiros mostra o crime ambiental em Mariana em 71 imagens Foto (Isis Medeiros/Divulgação)

Thiago Ventura

15h30. Foi nessa hora, em 5 de novembro de 2015, que rompeu a barragem do Fundão, em Mariana, Minas Gerais, despejando mais de 62 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério arrasando vilarejos e a natureza na bacia do Rio Doce. 15:30 é também o título do livro da fotógrafa Isis Medeiros sobre o crime socioambiental das mineradoras Samarco e BHP Billiton, maior desastre ambiental da história do Brasil.

A obra exibe 71 imagens selecionadas pela pela fotógrafa, que chegou ao local no dia seguinte à tragédia e permaneceu na cobertura ao longo dos anos e registrou mais de oito mil imagens. São retratos, paisagens devastadas, manifestações dos atingidos e reuniões com autoridades, dentre outras. Um trabalho que marcou e mudou o destino profissional da jovem, que passou a atuar mais no fotojornalismo e documental.

15:30 é o horário exato do rompimento. A maior parte dos moradores que conversei relata uma vida antes e depois daquele momento. Escolhi esse nome por marcar uma ruptura, uma mudança, não só para eles como para mim. Passei a me identificar também como atingida e a pensar mais do que é ser mulher,  ser mineira, viver num estado marcado pela mineração”, afirma Isis Medeiros.

Publicado pela editora Tona, voltada para trabalhos de fotografia contemporâneos, o livro exibe diversidade de temas e situações, fruto dos cinco ino anos de acompanhamento feito pela artista. A curadoria para selecionar as imagens foi complexa, devido à grandeza do crime e profundidade dos efeitos na natureza e nas pessoas.

“A história é muito maior que qualquer tipo de representação que a gente possa tentar fazer dessas comunidades e cidades atingidas. Mas é um livro que tentou condensar a história em uma linearidade. Uma linha para relatar sobre os sentimento de perda, de dor, de tristeza, de sofrimento, mas também de revolta, de luta e resistência”, explica Isis Medeiros.

De testemunha dos acontecimentos à identificação como atingida pela barragem, Isis Medeiros tornou-se ativista das causas ambientais. Formada em Design pela UEMG, ela trocou a prancheta pela fotografia de eventos. Mas após o rompimento em Mariana, optou pelo fotojornalismo. “Me envolvi tanto com aquele tema que senti que aquilo já tinha me absorvido de alguma forma. Então, de fato, eu passei a me interessar muito mais por documentar questões sociais, questões políticas e econômicas também. E tem sido um grande desafio permanecer trabalhando nessa área”, afirma a fotógrafa.

No Brasil, seus trabalhos já foram veiculados em jornais como Folha de São Paulo, The Intercept, BBC, Huffpost, Brasil de Fato, Jornalistas Livres e Revista Cláudia. Publicou curtas documentais pela National Geografic e Greenpeace.

Para Isis Medeiros, há pouca informação documental sobre o assunto nos museus, galerias e acervos públicos. Nas contas dela, o valor arrecadado com a venda do livro será apenas suficiente para os custos de produção.  “Tem muita gente se desdobrando em cima desses desses assuntos, mas não vejo isso muito refletido no campo da arte, no campo da cultura. Eu vi muitos documentários, filmes e livros, mas poucas produções, peças de teatro, artes plásticas ou em pinturas”, afirma. Segundo a fotógrafa, a dimensão política é um dos entraves. “É um assunto delicado, pouco ‘vendável’. Não há tanto investimento privado e é difícil aprovar um projeto desse numa lei de incentivo. É um trabalho crítico: não que seja impossível, mas muito difícil”, explica.

O livro tem prefácio assinado por Ailton Krenak, segundo Isis Medeiros uma inspiração para o trabalho e ativismo político. “Uma liderança conhecida e reconhecida em todo Brasil, que não tem só um discurso mas uma prática muito forte de denúncia e de lula”, diz. Isis encontra no parente um elo entre a defesa ambiental no pós-rompimento, não  só em Minas ou na Bacia do Rio Doce, mas em todo o planeta.

15:30 também abre espaço para mulheres atingidas pelo rompimento da barragem. Cartas das vítimas divulgam outro lado da tragédia de Mariana. Dessa forma, indígenas e mulheres têm voz ativa em sua lutas. “Na bacia do do Rio Doce, eles são a verdadeira representação daqueles que sempre lutaram e sempre resistiram por esse território. Não tinha representatividade melhor do que o Krenak para estar comigo nesse trabalho. Além dele, Simone Silva, que é uma mulher atingida, e que que luta muito pela questão da saúde da população do Rio Doce”, declara.

Lives de lançamento

A obra foi lançada em live pelo YouTube da editora. A conversa reuniu Krenak, a fotógrafa e documentarista Nair Benedicto e a ativista Simone Silva, do grupo de atingidas da Bacia do Rio Doce. Foram duas horas de conversa sobre os efeitos da tragédia e nos reflexos políticos aqui para frente.

Na próxima segunda-feira, dia 4 de dezembro, no mesmo horário, a fotógrafa realiza mais uma live para divulgar o livro, desta vez com o fotojornalista João Ripper, a ativista Eliane Balke (também do grupo de atingidas da Bacia do Rio Doce) e a jornalista Cristina Serra (autora do livro Tragédia em Mariana: A história do maior desastre ambiental do Brasil).

15:30, de Isis Medeiros
120 páginas, 71 fotos, brochura
Preço de capa: R$ 40
Link para pré-venda: tonaeditora.com.br