Bolsonaro tenta recompor o pacto entre os Três Poderes, que Rodrigo Maia desfez na Câmara

Derrota de Crivella não significa uma derrota de Bolsonaro, diz Maia

De repente, o equilíbrio da democracia depende de Rodrigo Maia

Carlos Newton

O presidente Jair Bolsonaro é conflituoso pela própria natureza. Apesar de falar pelos cotovelos e dizer seguidos absurdos, suas manifestações são tão confusas que é difícil saber o que realmente pretende. Mas agora ficou fácil decifrar a estratégia de Bolsonaro, porque ele ganhou um especialista em tradução simultânea. Cada voto do neoministro Nunes Marques exibe claramente o objetivo do presidente da República. É como se o novo integrante do Supremo fosse um boneco de ventríloquo.

Seu primeiro voto durou apenas um minuto e trinta e dois segundos. A estreia ocorreu no julgamento do habeas corpus de um promotor acusado de receber propina de empresas de transportes no Rio. Em seu voto, o magistrado acompanhou o relator, ministro Gilmar Mendes, e a Segunda Turma do Supremo confirmou a soltura de um promotor denunciado por corrupção no Rio de Janeiro e decidiu que o processo de pagamento de propina por empresários do setor de ônibus no Rio de Janeiro deve tramitar na Justiça Estadual, e não na 7ª Vara da Justiça Federal, que tem como titular o juiz Marcelo Bretas. Duas pancadas na Lava Jato.

MAIA A ALCOLUMBRE – Depois Nunes Marques votou contra injúria racial ser considerada racismo e agora, na madrugada desta sexta-feira, mais uma vez Nunes Marques traduziu ao pé da letra a intenção do presidente Bolsonaro, ao votar a favor da reeleição de Davi Alcolumbre no Senado,  mas impedindo que Rodrigo Maia também possa ser reeleito.

Sua manifestação diferiu dos votos do relator Gilmar Mendes e de Dias Toffoli, que são como irmãos xifópagos e preferiram apoiar também a reeleição na Câmara, dando o mesmo tratamento  às duas casas do Congresso, numa postura jurídica mais equilibrada, porém Nunes Marques já mostrou que não está nem aí para as aparências.

Com Maia fora do comando da Câmara, Bolsonaro pode eleger o rachadista Artur Lira, do Progressistas, nova alcunha do antigo PP que Paulo Maluf dominou por anos e anos.

UM GOLPE BRANCO – Já assinalamos aqui na Tribuna da Internet que a coisa está feia. Sem a menor dúvida, Jair Bolsonaro tem um irresistível vocação de ditador.

Depois de liderar aquela manifestação diante do Forte Apache, dia 19 de abril do ano passado, em busca de um golpe militar contra o Congresso e o Supremo, que as Forças Armadas repudiaram, Bolsonaro teve de mudar de estratégia e acertou com os ministros Dias Toffoli e Gilmar Mendes, o pacto entre os Poderes, que teve adesão entusiasmada de Davi Alcolumbre no Senado, mas Rodrigo Maia sentiu algo no ar e ficou relutante na Câmara.

Em tradução simultânea, Bolsonaro fracassou na tentativa de dar um golpe militar, mas está avançando velozmente na articulação de um golpe branco, como se dizia antigamente, para consolidar o domínio dos três Poderes da República, que ele garantirá em fevereiro, caso eleja Artur Lira na Câmara e Alcolumbre no Senado

REAÇÃO NO SUPREMO – O novo golpe pode fracassar, porque o Supremo não confia em Bolsonaro e está reagindo, antes que tudo fique dominado em julho, quando  Marco Aurélio Mello se aposenta e será substituído por mais um ministro tipo Nunes Marques, sem notório saber nem reputação ilibada, nos moldes do Centrão.