Apoios no Nordeste acirram disputa na esquerda

Vitórias de PDT e PSB em quatro capitais e alianças com adversários do PT expõem briga por terreno para candidatura de Ciro Gomes em 2022

Por Bernardo Mello, do Globo

O saldo de quatro vitórias de PDT e PSB em capitais do Nordeste acirrou a disputa com o PT pelo protagonismo na esquerda em 2022. Com os resultados, petistas e pedetistas devem ficar em palanques opostos na maioria dos estados nordestinos, comprometendo a chance de unidade na única região em que chapas da esquerda tiveram vitórias em 2018.

Lideranças do PT criticam alianças pedetistas com DEM e PSDB em estados como Bahia e Rio Grande do Norte, onde há oposição a governadores petistas. Já as cúpulas de PDT e PSB veem o crescimento em prefeituras na região e a conversa com siglas fora da esquerda como formas de viabilizar uma candidatura de Ciro Gomes à Presidência, fugindo do que avaliam como “vontade de hegemonia” do ex-presidente Lula.

O PDT ampliou de 131 para 144 o número de municípios nordestinos em que venceu nas urnas, enquanto o PT caiu de 114 prefeituras conquistadas em 2016 para 91 este ano. Candidatos pedetistas se elegeram em Fortaleza e Aracaju, e a sigla também compôs as chapas vencedoras no Recife e em Maceió, ambas encabeçadas pelo PSB. Na capital sergipana, o partido fez oposição ao PDT.
Candidato dos irmãos Cid e Ciro Gomes, José Sarto foi eleito prefeito Fortaleza após vencer candidato bolsonarista.

O PT não venceu nenhuma das 18 cidades do Nordeste com mais de 200 mil eleitores, com derrotas em Feira de Santana e Vitória da Conquista no segundo turno. Com mais de 400 candidatos a prefeito na região, o PT foi, porém, a sigla de esquerda com mais votos no primeiro turno em todo o Nordeste: 2,5 milhões, logo à frente de PDT e PSB, que tiveram quase cem candidatos a menos cada.

— Fomos majoritários no campo da centro-esquerda. O resultado mostra que nossa aliança com o PSB é o embrião deste campo para 2022 — disse o presidente do PDT, Carlos Lupi.

Na segunda-feira, em entrevista à Rádio Bandeirantes, Ciro citou o “lulopetismo radical” como um dos derrotados nestas eleições, ao lado do “bolsonarismo boçal”. Elogiado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), Ciro defendeu o diálogo “da centro-esquerda à centro-direita” para 2022. Dirigentes de PDT e PSB defendem que esta aliança não seja encabeçada pelo PT.

Para a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), as alianças locais já sinalizam caminhos distintos na esquerda.

— Quem fala demais dá bom dia a cavalo, mas o problema não são as declarações do Ciro, e sim o campo em que o PDT está se colocando. Não vemos essas alianças ao centro, e sim, à direita — afirmou Gleisi.

PT foi a sigla de esquerda com mais votos no primeiro turno em todo o Nordeste | Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Necessidade de diálogo

Na Bahia, o crescimento nas eleições municipais de PSD e PP, ambos partidos da base do governador petista Rui Costa, levou o senador Jaques Wagner (PT-BA) a se colocar como possível candidato à sucessão no governo do estado, numa tentativa de já atrair as siglas aliadas. O PDT se aliou em Salvador ao DEM, do prefeito ACM Neto, que elegeu seu sucessor, Bruno Reis, e deve ser o principal candidato contra o bloco de Costa em 2022.

Em Natal, a reeleição de Álvaro Dias (PSDB) deu fôlego ao projeto do PDT de disputar o governo do Rio Grande do Norte com o ex-prefeito Carlos Eduardo Alves, de quem Dias foi vice. A atual governadora é a petista Fátima Bezerra, que deve brigar pela reeleição.

Após o duelo acirrado entre os primos João Campos e Marília Arraes no Recife, tornou-se provável que PT e PSB estejam em campos opostos na próxima disputa pelo governo pernambucano. Em Sergipe e Alagoas, a tendência também é de enfrentamento em 2022, mesmo que os partidos não encabecem as chapas.

No Piauí, estado em que o PDT busca se reconstruir após ser reduzido a apenas uma prefeitura, o partido se aliou na capital Teresina ao candidato do PSDB, Kleber Montezuma, representante da oposição ao grupo do governador Wellington Dias (PT). Dias deve apoiar um nome de consenso dos partidos de sua base, entre MDB, PL e o próprio PT, para disputar a sucessão daqui a dois anos.

Flávio Dino (PCdoB), governador do Maranhão, e Ciro Gomes (PDT) durante o ato “Direitos Já”, realizado no Tuca Foto: JF DIORIO/ESTADAO

Na entrevista à Rádio Bandeirantes após o segundo turno, Ciro Gomes criticou o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), por votar usando uma camisa com os dizeres “Lula livre”. Dino argumentou que foi um esforço pela unidade política “do campo nacional-popular”.

Partido da base do governo Dino, o PDT tornou-se líder de prefeituras conquistadas no Maranhão (41) e apoiou no segundo turno em São Luís o candidato de oposição Eduardo Braide (Podemos). O senador Weverton da Rocha (PDT-MA) é cotado para encabeçar uma chapa pedetista ao governo do estado em 2022, enquanto outros nomes da base do governador também tentam se viabilizar à sucessão, como o vice Carlos Brandão, que apoiava Duarte Junior (Republicanos) no segundo turno da capital.

Segundo Dino, é necessário aguardar a “decantação” dos resultados destas eleições municipais antes de avançar nos acertos de alianças e apoios para 2022. Dino defende um diálogo entre as siglas de esquerda, incluindo PT e PDT, para viabilizar um nome deste campo à Presidência.

— Partidos como DEM e PSDB estarão com o bolsonarismo, se estiver forte, ou terão projeto próprio em 2022. Eles não pegarão seu capital político e colocarão numa chapa do Ciro. Isto é inviável.