Boicote da Procuradoria-Geral à Lava-Jato em São Paulo prejudica três anos de investigações

Cpi da Lava Jato: Deputados. Charge do Paixão.

Charge do Paixão (Gazeta do Povo)

Gustavo Schmitt  e Thiago Herdy
O Globo

Um embate no Ministério Público Federal (MPF) ameaça investigações em andamento há três anos na Lava-Jato de São Paulo, que apura suspeitas de corrupção envolvendo líderes do PSDB e os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Michel Temer.

Divergência internas levaram a um pedido de demissão coletiva de oito procuradores. Os integrantes da força-tarefa se insurgiram contra a chefe do grupo, Viviane Oliveira Martinez, titular do 5º Ofício da Procuradoria da República em São Paulo. Os colegas acusam Viviane de atuar contra investigações sobre políticos, impedir abertura de inquéritos e coibir novas delações.

SEM COMENTÁRIOS – Viviane Martinez não tem se manifestado sobre o caso e disse que ainda não teve acesso aos documentos oficiais sobre a debandada da equipe. A assessoria da procuradora informou que ela aguarda a conclusão de uma sindicância da corregedoria do MPF que apura supostas irregularidades na distribuição dos inquéritos aos membros da força-tarefa.

Em carta ao Conselho Superior do MPF, os procuradores relatam que Viviane pediu o adiamento de uma operação que atingiu o ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB). O tucano é acusado de receber propinas da Odebrecht por obras viárias no período em que era governador do estado — ele nega as acusações. A operação foi mantida, Serra foi denunciado, mas o processo foi suspenso pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

RESULTADOS TÍMIDOS – Entre as forças-tarefas, a da Lava-Jato paulista é a que tem os resultados mais tímidos. Desde 2017, nove denúncias foram apresentadas, e seis operações saíram às ruas. Os trabalhos sempre esbarraram na falta de estrutura, no baixo efetivo de procuradores e em mudanças constantes na equipe, além da falta de um juízo único que pudesse agilizar os processos.

Este ano, quando a operação ensaiava uma decolagem, decisões judiciais do STF barraram investigações. Agora, um conflito interno coloca em suspenso a continuidades das apurações.