Sebastião Salgado apela para que STF expulse invasores de terras indígenas contra coronavírus

Garimpeiros permanecem em terras que já foram demarcadas

Mariana Carneiro
Folha

O fotógrafo Sebastião Salgado gravou um vídeo para fazer um apelo ao Supremo. Ele pede que os ministros da Corte determinem a expulsão de invasores de sete terras indígenas como meio de evitar a transmissão de coronavírus. Há uma ação no STF sobre o tema. “Essas invasões são, como vocês sabem melhor do que eu, completamente ilegais. Essas comunidades são protegidas pela Constituição e vocês são o último recurso”, diz Salgado. O caso vai ser julgado nesta segunda-feira, dia 3.

O relator da ação, Luís Roberto Barroso, deferiu liminar solicitada pela APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) em que obriga a União a criar barreiras sanitárias em 31 terras isoladas para evitar a propagação da doença. O ministro também determinou o acesso de todos os indígenas ao Subsistema Indígena de Saúde, a elaboração de plano e uma sala de situação para enfrentamento e monitoramento da Covid-19. As ações terão quer ser tomadas com a participação das comunidades.

ISOLAMENTO – O ministro, porém, acatou parcialmente a solicitação de expurgo dos invasores. No lugar, ele pediu ao governo ações para isolá-los nas comunidades. No vídeo, Salgado, que já fotografou diversas cenas na Amazônia, dirige-se diretamente aos magistrados. “Não é só necessário hoje socorrer as comunidades criando este cordão sanitário de proteção (…) como também a expulsão dos territórios indígenas dos invasores”, diz.

O fotógrafo afirma que as “pessoas de boa vontade” contam com a corte como “último e único recurso”. “Muito obrigado e desculpa eu incomodar e fazer uma solicitação a vocês, mas realmente a esperança está na mão do Supremo”, conclui. O vídeo será enviado aos ministros pelas entidades que fazem parte da ação.

RISCO – Associações ligadas ao tema e Salgado reclamam da presença de garimpeiros nessas terras, que já foram demarcadas. Dizem que eles usam, por exemplo, os postos de saúde,e há um risco de eles levarem o vírus para as populações locais e indígenas isolados que ficam próximos.

Quatro meses após o início da pandemia, a Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena), ligada ao Ministério da Saúde, registrou na últimaú quarta-feira, dia 29, 15 mil casos de indígenas contaminados e 276 óbitos.O número, contudo, é contestado por entidades e ONGs (organizações não-governamentais) que atuam na assistência de povos indígenas. Levantamento feito pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) registra 19,7 mil casos e 590 óbitos.