Norman Mailer, o escritor que foi à lua sem tirar os pés do chão.

O livro ‘Moonfire – A Épica Jornada da Apollo 11’ recorda, nas palavras de Norman Mailer, a primeira viagem à Lua (que no domingo, 19, completou 51 anos):

Tudo começou numa série de artigos de Norman Mailer publicados nas páginas da revista Life entre Agosto de 1969 e Janeiro de 1970, nos quais se relatava, a par e passo, a história da primeira viagem tripulada à Lua. Foram três textos, o primeiro dos quais, publicado a 29 de Agosto de 1969 com o título On A Fire To The Moon , tendo representado o mais extenso artigo até então publicado na revista. Seguiram-se, a 14 de Novembro, The Psychology of Astronauts, e, a 7 de Janeiro de 1970, A Dream of The Future’s Face concluía a série. Em 1971, os trabalhos seriam reunidos num mesmo livro, sob o título comum Of a Fire on The Moon. Em 2009, assinalando os 40 anos da viagem, a Taschen reeditou o texto, com imagens da época. Versão que agora surge entre nós traduzida para português.
 
Na introdução desta nova edição, assinada pelo escritor irlandês Colum McCann, explica-se que Norman Mailer se encontrava “no seu auge” quando este desafio surgiu pela sua frente. “Nos anos 1940 era já o mais celebrado e, possivelmente, o mais temido autor da América”, escreve o irlandês. Mas, continua Colum McCann, “o único problema para Mailer estava no facto de não ter sido convidado para ir lá acima, a bordo do foguetão.” Já que não ia em pessoa, “iria de qualquer maneira”. E deixa a reflexão: “No fim de contas, o que era a Lua se não uma palavra? E quem melhor do que Norman Mailer para examinar as intrincadas volutas de feridas e palavras?”
 
Rendido ao desafio (e à história que surgia pela sua frente), Norman Mailer fez-se à estrada. “Viajou ao longo da auto-estrada n.º 1 da NASA para ir confraternizar com os rapazes de olhos perspicazes do centro espacial e para acotovelar os cientistas, os burocratas e os próprios astronautas.” Partiu “em busca de uma história”. E a seu serviço contou com a sua formação em engenharia, em Harvard, “para entender as dinâmicas matemáticas”.
 
No fim, o texto acabou por ser reconhecido como um caso de referência na história do jornalismo. Colum McCann, que tinha quatro anos quando Neil Armstrong pisou o solo lunar, explica ainda na introdução que Norman Mailer consegiu aqui não só “ser toda a gente”, mas inclusivamente encontrou o “homem vulgar em toda a gente”.
 
Para contar a sua história, Norman Mailer criou uma personagem. Chamou-lhe Aquarius, descrevendo-o como “uma espécie de detective” que “aprendeu a viver com as perguntas”.
 
Aquarius só viu os astronautas pela primeira vez a 5 de Julho de 1969. Ou seja, a onze dias do lançamento. Foi numa conferência de imprensa, numa “moderna sala de espectáculos com assentos cor de laranja e com um tecto escuro”. A sala era nova, mas os “sistemas de som guinchavam e chiavam (era aparentemente mais fácil estabelecer comunicação com homens a quinhentos mil quilómetros de distância)” e nunca se conseguiu “o apropriado conforto auricular”.
 
No centro das atenções estavam os três astronautas da Apolo XI. Neil Armstrong, Buzz Aldrin e Michael Collins. “Os astronautas estavam ali para responder a perguntas acerca de um fenómeno que apenas dez anos antes seria considerado como tema inapropriado para uma discussão séria”, relata Mailer. Explica–se a missão. Descreve-se cada um dos seus protagonistas. Fala-se dos medos. Alguém pergunta o que farão se o Módulo Lunar não conseguir encetar a viagem de regresso. “É desagradável pensar numa coisa dessas”, respondem.
 
No dia da largada, Aquarius escolhe um lugar numa das bancadas. “Ninguém falava muito. Se algo corresse mal, estariam todos implicados”… Mas tudo correu bem. E nos dias que se seguiram não se falava de outra coisa.
 
A ansiedade regressou depois numa das noites mais esperadas da história. O livro acompanha os diálogos entre astronautas e os técnicos que, na Terra, os acompanham. “Já nos estávamos a preparar para o clímax da semana mais importante desde o nascimento de Cristo”, descreve. Acompanha a descida, a alunagem. Os primeiros passos. As fotografias. O regresso em segurança. “Que poderia ser melhor para símbolo de uma nova era do que uma descida na Lua?”, remata então Norman Mailer.
Fonte:(Diário de Notícias).