PESQUISAS X VOTOS . Por  José  Nivaldo  Júnior

Resultado de imagem para jose nivaldo junior   Por  José  Nivaldo  Júnior  – Consultor em comunicação,advogado,historiador, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. 

Trabalho com pesquisas de opinião eleitoral desde 1978. Foi a minha primeira campanha como profissional. Trabalhei para Cristina Tavares e Fernando Lyra, ambos eleitos Deputados Federais pela oposição, em Pernambuco. Ambos de saudosíssima memória. Fazem muita falta. Também participei como voluntário da disputa de Jarbas Vasconcelos para o Senado.

SUBLEGENDA
Era uma época de grandes limitações. Antes da Anistia. Censura instalada. Leis feitas para a ditadura não perder. Sob o comando de Eurico Andrade e Joca Souza Leão redigi algumas peças para a campanha. Jarbas, consulte-se a história, ganhou mas não levou. Era época da sublegenda. Teve quase o dobro dos votos somados dos adversários da Arena, o partido governista. Quase. O Eleito foi Nilo Coelho, com cerca de 300 mil votos a menos.

PEDRO ALENCAR
Foi Fernando Lyra quem me apresentou a Pedro. Instituto Porte. Ele trabalhava também para Nilo, do outro partido. A primeira lição que aprendi com Pedro foi não misturar trabalho com ideologia. Cliente é cliente. Aprendi mais uma de saída: não é você (prestador de serviço) que escolhe o cliente. O cliente é que lhe escolhe. E aprendi o valor de pesquisas bem feitas e bem interpretadas para orientar uma campanha.

PESQUISAS
Ainda aprendo muito com meus clientes. Fernando Lyra, entre outras qualidades (muitos o consideram o maior orador de palanque do Brasil) era devorador de pesquisas. Foi o meu guia nesse mundo intrincado onde a percepção de um detalhe pode mudar todo o entendimento. Ao longo desses 42 anos de percurso, atuei em rigorosamente todas as eleições. Pelas agências ou como prestador de consultoria pessoa física.

METODOLOGIAS
Trabalhei
com os mais conceituados institutos do planeta. Uma curiosidade: Leonel Brizola, cliente como candidato ou presidente do PDT em quatro campanhas nacionais, não confiava no Ibope. Usava o Gallup americano. O mais famoso do mundo. O que me familiarizou com metodologias diversas e as mais avançadas na época.

AMOSTRAGEM
As pesquisas políticas e eleitorais são levantamentos estatísticos de opinião. O retrato correto do momento investigado depende da fidelidade da amostragem. Se essa for representativa da população, não importa o método. Em casa, na rua, por telefone, o resultado sai dentro da margem de erro e do intervalo de confiança (detalhe que nunca ninguém leva em conta).
Esse raciocínio, naturalmente, não se aplica a manipulações desonestas, cada vez mais raras, mas que ainda existem. Laranjas podres têm em todo setor.

OPINIÃO MUDA
Dizem que política é como as nuvens, muda constantemente. O mesmo se pode dizer da opinião. Sobre qualquer assunto. Da mesma forma que uma pessoa pode mudar, a coletividade também muda. Muitas vezes o politico reclama de determinado instituto. “Comigo errou”. Aí eu pergunto quantos dias antes da eleição a pesquisa foi aplicada. “15 dias, três semanas, um mês.” Eu acho graça.
O momento pesquisado era outro.

O FATO NOVO
Em determinadas circunstâncias, seis meses antes o eleitor já está definido e não muda mais o voto. Em outras, a definição acontece na fila de votação. Por isso, dizem os políticos sábios, o resultado que vale é o da urna. Porque em cada percurso tem sempre a possibilidade da grande armadilha: o fato novo. Ou um fator ainda mais intangível mas não menos objetivo: a direção dos ventos da política.

COMEÇOU A TEMPORADA
Sempre pioneiro, o Blog do Magno, em parceria com o Instituto Potencial , com O PODER e o programa Frente a Frente, deu a largada a meia noite de quarta feira na temporada de pesquisas deste ano. Sempre que uma levantamento é publicado, muitos não gostam dos resultados. Frequentemente contestam, se insurgem, insultam, até ameaçam. Quando ocorre isso sempre oriento: contrate um instituto sério, registre a pesquisa e se quiser, publique. Mas, se depender de mim, cliente nenhum discute com números.

AJUDA OU ATRAPALHA?
Aliás, não há qualquer evidência de que à publicação de uma pesquisa favorável aumente a vontade coletiva de votar naquele candidato. Isso até pode acontecer. Na mesma proporção do resultado inverso. Já vi muitos candidatos perderem não apesar mas porque a pesquisa indicava que ganhariam.

O TEMPO ELEITORAL
Está muito longe da eleição. Nesses tempos de pandemia, muita coisa ainda pode mudar. Entretanto essa primeira rodada de pesquisas, que inclui os principais municípios metropolitanos, é fundamental. Para determinar um ponto confiável de partida. Para possibilitar um acompanhamento mais preciso da evolução do quadro, as famosas tendências. Os “vieses” de alta, de baixa ou de estabilidade que frequentemente são mais importantes que os números em si. Sabendo-se que o calendário da campanha não avança no ritmo do padrão gregoriano.

DERROTAS DO ÓBVIO
Largar na frente é vantagem mas não garante a vitória.
Até novembro, muitos imponderáveis podem ocorrer. O que decide eleição é a campanha e a tendência política na hora decisiva. Em cada pleito, o eleitor faz escolhas e manda recados. Por isso, as eleições e o óbvio nem sempre andam de mãos dadas.