Governo do ex-juiz federal Witzel estaria cobrando até 30% de propina para liberar pagamentos a fornecedores, segundo delator que aponta o Pastor Everaldo, presidente do PSC, como operador do esquema

 
A Revista Veja afirma que teve acesso a um documento, em que o empresário conhecido como Rei Arthur descreve o funcionamento do esquema de corrupção montado pelo governador Witzel, do Rio de Janeiro. Segundo a reportagem, o governador do Rio operaria tudo por meio de dois personagens — o pastor Everaldo Pereira, presidente do PSC, o partido do governador, e o secretário estadual da Casa Civil e Governança, o ex-deputado federal André Moura, que é citado na narrativa como o responsável por intermediar as negociações para o recebimento da propina. Arthur Soares, o Rei Arthur, conta que teve certeza sobre a existência, a dimensão e os personagens envolvidos depois que foi alvo de um achaque. Ele diz que tinha cerca de 100 milhões de reais a receber do governo. Em julho, seu irmão, Luiz Soares, foi avisado de que a dívida seria integralmente quitada desde que ele concordasse em pagar 20% do valor. O empresário não aceitou, e o contrato de sua empresa com o governo foi suspenso.
A proposta, de acordo com Arthur Soares, teria chegado por intermédio de prepostos do pastor Everaldo, uma figura influente. Foi o presidente do PSC quem abriu as portas do partido ao então juiz Wilson Witzel, em 2018, quando o candidato tinha 1% das intenções de voto. Depois da vitória de Witzel nas urnas, Everaldo foi recompensado com vários cargos importantes no governo. Indicou, por exemplo, o filho Filipe Pereira para a assessoria especial do governador. Para a Casa Civil, escolheu o amigo André Moura, um antigo escudeiro do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha. Arthur Soares conta que todos eles estão na mesma empreitada. Na época da suspensão do contrato, Luiz Soares procurou um advogado ligado ao chefe da Casa Civil em busca da “solução”. Nesse encontro, André Moura teria reafirmado o pedido de propina e assegurado que, se o empresário topasse o acordo, o dinheiro seria liberado. As negociações se estenderam até o dia 27 de dezembro, quando Arthur Soares diz ter aceitado a proposta e recebido 8,6 milhões de reais para a empresa Cor e Sabor, que fornecia alimentação para o sistema penitenciário. Em troca, o empresário teria se comprometido a repassar ao secretário 20% desse valor, cerca de 1,7 milhão de reais, em seis parcelas. Moura afirma que nunca se encontrou com interlocutores de Arthur Soares e nega ter alguma participação no esquema de propinas. “Nunca vi esse cara na minha frente nem ninguém ligado a ele. Só ouvi falar das falcatruas dele através de empresas”, garante o secretário. O presidente do PSC, pastor Everaldo, defende a investigação de suspeitas de irregularidades e a punição dos envolvidos com base em provas. Em nota, ele reitera que “não responde pelo governo do Rio” e afirma “não ter relação com o empresário”.
Ainda segundo a Veja, na delação do Rei Arthur ele revela como funcionaria o esquema:  o governo alega que não tem dinheiro suficiente para quitar as dívidas com os credores, atrasa os pagamentos, acena depois com a possibilidade de uma negociação e, por fim, surge alguém com a solução mágica — quem concorda em pagar propina ganha a preferência na fila do caixa. Em menos de um ano, segundo ele, o esquema teria arrecadado cerca de 30 milhões de reais com a cobrança de 20% a 30% do valor de cada fatura paga.