Morre a escritora, jornalista e tradutora Olga Savary, aos 86 anos

Premiada autora paraense foi a primeira mulher a publicar um livro de poemas eróticos no Brasil

A escritora Olga Savary, em foto de 1998 Foto: Marco Antônio Cavalcanti / O GLOBO
A escritora Olga Savary, em foto de 1998 Foto: Marco Antônio Cavalcanti / O GLOBO
RIO — Morreu nesta semana a escritora paraense Olga Savary, aos 86 anos, no Rio de Janeiro. Segundo postaram em redes sociais Dalma Nascimento e o poeta Edimilson de Almeida Pereira, ambos amigos da poeta, a morte foi em decorrência de complicações derivadas do novo coronavírus.

“Olga Savary foi enterrada ontem (sexta-feira) em Teresópolis, onde vive a filha Flavia Savary”, postou a editora Thereza Rocque da Motta, em sua conta no Facebook.

Olga  nasceu em Belém do Pará, no dia 21 de maio de 1933. Poeta, contista, romancista, jornalista e tradutora, a autora é conhecida por ser a primeira mulher a publicar uma coletânea de poemas eróticos no Brasil, “Magma”, lançado em 1982.

Entre os muitos prêmios que recebeu durante a carreira, destacam-se o Jabuti, em 1971, por “Espelho provisório”, o Prêmio de Poesia da Associação Paulista de Críticos de Arte, em 1977, por “Sumidouro”, e o Prêmio Artur Sales de Poesia — da Academia de Letras da Bahia — por “Berço esplêndido” (1987).

Admirada por poetas como Carlos Drummond de Andrade e Ferreira Gullar, de quem ela também foi amiga próxima, Olga traduziu dezenas de obras de grandes nomes da literatura latino-americana, como Júlio Cortázar, Jorge Luis Borges, Carlos Fuentes, Mario Vargas Llosa e Pablo Neruda.

— Ela nunca parou de escrever em nenhum momento. O que ela trouxe de novo foi a voz feminina muito ligada ao erotismo, à liberdade da sexualidade da mulher, desse corpo, por meio de um erotismo sutil e alegre — comenta Giovanna Dealtry, professora do departamento de letras da UERJ. — Ela também era bastante generosa, organizou antologias (como “Antologia da nova poesia brasileira”, pela Fundação Rioarte, Hipocampo, em 1992), criou pontes entre diferentes geraçoes de poetas. A Olga tinha uma participação ampla na sociedade, era uma intelectual sempre em movimento.

Essa faceta de atuar como ponto de encontro entre escritores também é lembrada pelo poeta e crítico literário Antonio Carlos Secchin:

— Além da poesia delicada, temos também a posição dela como incentivadora de novos poetas. Ela organizou a primeira antologia de poesia erótica do país, e se dedicou inteiramente à literatura em todas as manifestações, apesar de não ter tido o reconhecimento à altura. E ela se ressentia um pouco disso, com razão. Nos resta homenageá-la — diz Secchin, que menciona uma expressão criada por Olga. — Segundo consta, ela foi inventora de “dica” (Olga foi a autora da coluna “Dicas”, no “Pasquim”, do qual ela foi uma das fundadoras) como sinônimo de indicação. Poucos podem falar isso, que inventaram uma palavra.

Amigo de Olga, o poeta Edimilson de Almeida Pereira lembrou em sua página numa rede social da genorisadade da escritora: “No início do meu percurso como poeta, Olga (que conheci através de José Afrânio Moreira Duarte, outro amigo imensurável, flor da mais humana generosidade) foi uma incentivadora constante, uma voz reconhecida que se dedicou a ler e a comentar os textos de um iniciante”, escreveu.

Em contato com a reportagem, Pereira resumiu a trajetória da amiga:

— Ela foi uma artista de muitas faces. Harmonizou densidade e coerência com a força criativa da poeta, o rigor crítico da pensadora, a competência da gestora pública de bens clulturais, tudo isso permeado por uma generosidade muito grande e um senso de humor refinado. A Olga Savary que conheci me legou a vontade de trabalhar apesar dos obstáculos, sem perder no trabalho o apreço pela beleza.

Durante sua carreira, a poeta também atuou como colaboradora e correspondente de diversos veículos de imprensa tanto no Brasil quanto no exterior. Olga, que perdeu o filho Pedro em 1999, aos 41 anos, deixa uma filha, a também escritora Flávia Savary. Os dois foram frutos de seu casamento com o cartunista Jaguar.

O GLOBO