Bolsonaro admite que falou “PF”, mas nega interferência : “Não é nesse contexto da inteligência, não”

Ao ser questionado, Bolsonaro se enrolou e terminou a entrevista

Guilherme Mazui
G1

O presidente Jair Bolsonaro admitiu nesta sexta-feira, dia 15, que falou a palavra “PF” na reunião ministerial do dia 22 de abril. Ele ressaltou, no entanto, que se posicionou para interferir em assuntos de segurança física de sua família, e não em temas de inteligência e investigações dentro da corporação.

Na semana passada, Bolsonaro havia dito que não mencionou o termo “Polícia Federal” durante a reunião. O encontro ministerial é alvo de inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar denúncias do ex-ministro Sergio Moro de que Bolsonaro tenta interferir politicamente na PF.

TRANSCRIÇÃO PARCIAL – O relator do caso, ministro Celso de Mello, vai decidir se torna público o inteiro teor do vídeo.Nesta quinta-feira, dia 14, a Advocacia-Geral da União divulgou a transcrição parcial da reunião, em que aparece o presidente falando “PF”. Bolsonaro reconheceu que o texto divulgado pela AGU corresponde à realidade.

“Eu espero que a fita se torne pública, para que a análise correta venha a ser feita. A interferência não é nesse contexto da inteligência, não. É na segurança familiar. É bem claro”, afirmou o presidente.

INTERFERÊNCIA – Apesar de Bolsonaro afirmar nesta quarta-feira que na reunião falou sobre interferir em questão de segurança familiar, a manifestação da Advocacia-Geral da União (AGU) entregue ao STF mostra que o presidente reclamou da falta de informações da Polícia Federal e declarou que iria “interferir”. A declaração transcrita parcialmente pelo governo, no entanto, não deixa claro como ele faria isso.

“E me desculpe o serviço de informação nosso – todos – é uma vergonha, uma vergonha, que eu não sou informado, e não dá pra trabalhar assim, fica difícil. Por isso, vou interferir. Ponto final. Não é ameaça, não é extrapolação da minha parte. É uma verdade”, diz trecho da transcrição entregue pela AGU, um dos 22 ministérios do governo federal.

NEGATIVAS – Na semana passada, quando o vídeo foi entregue aos investigadores por decisão do ministro Celso de Mello, Bolsonaro disse na rampa do Palácio do Planalto que ele não falava as palavras “Polícia Federal” na reunião.

A reunião que está gravada no referido vídeo foi citada em depoimento por Sergio Moro no contexto do inquérito que investiga a suposta interferência do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal. Na reunião, o presidente teria exigido a troca do superintendente da PF no Rio de Janeiro, a fim de evitar investigação sobre familiares dele.

O vídeo está sob sigilo desde que chegou ao STF, na sexta-feira, dia 8, e já foi exibido em uma única sessão, reservada a investigadores e procuradores da República, além do proprio Sergio Moro e da Advocacia-Geral da União. Fontes que acompanharam a exibição informaram que a gravação mostra Bolsonaro usando palavrões e fazendo ameaças de demissão em defesa da troca no comando da PF no Rio de Janeiro.