Dia da Abolição da Escravidão no Brasil completa 132 anos

Luta pela igualdade e pelo fim do racismo continua no país

Cartaz comemorativo de 1888 pela Lei Áurea Foto: Acervo Arquivo Nacional

Nesta quarta-feira (13) se comemoram os 132 anos desde que a Lei Áurea foi assinada no Brasil. A Abolição da Escravidão foi um marco na luta contra o preconceito racial, que não terminou no país.

A Lei 3.353, de 1888, foi o documento oficial do fim da escravatura, mas já havia sido precedida por outros decretos oficiais, como a Lei Eusébio de Queirós, de 1850, que proibiu a entrada de africanos escravizados no Brasil; a Lei do Ventre Livre, de 1871, que permitiu que os filhos de mulheres escravizadas já nascessem livres; e a Lei dos Sexagenários, de 1885, que tornou livres todos os escravos acima de 60 anos.

Dessa maneira, percebe-se que o processo foi gradual até o fim da escravidão. A lei assinada pela Princesa Isabel no dia 13 de maio de 1888 havia sido aprovada pela Câmara Geral três dias antes e, pelo Senado Imperial, no mesmo dia em que foi sancionada pela princesa regente.

A escravidão no Brasil durou mais do que em qualquer outro país do continente americano. E os brasileiros seguem lutando pela igualdade e fim do preconceito racial.

Várias iniciativas expressam a visão dos negros sobre o preconceito no Brasil, entre eles a página Senti Na Pele, do Facebook. Ao Pleno.News, o criador Ernesto Xavier falou sobre a iniciativa.

– Eu falava sobre o genocídio da juventude negra, o medo de ser negro, de ser linchado, de tomar um tiro enquanto corria na praia. Depois disso, muita gente veio falar comigo, tanto para xingar quanto para contar suas histórias. Eu percebi que existia uma necessidade das pessoas falarem sobre as experiências delas com o racismo, coisas que elas guardavam a vida inteira – afirmou Ernesto.

Ele também afirmou que a página, com mais de 41 mil seguidores, é um reflexo do debate que vem crescendo na sociedade.

– O debate vem crescendo, mas ainda estamos anos-luz distantes de uma sociedade sem racismo. Principalmente porque as pessoas não sabem o que é o racismo. Elas acham que é só o xingamento. Essas são as manifestações que são expostas, mas aquilo que está na estrutura não é debatido. Eu percebo que não só por causa das páginas, mas pelos movimentos negros que têm obrigado o debate a ser levado adiante. Esse trabalho de formiguinha é o caminho – concluiu Ernesto.

Pastor e cantor Kleber Lucas afirma que já sofreu racismo Foto: Pleno.News/Samuel Santos

Uma dessas histórias pessoais foi contada ao Pleno.News pelo cantor Kleber Lucas. Ele afirma que já sofreu racismo e que sente a diferença do tratamento, mesmo que sutil.

– Eu já fui parado aqui na porta do meu condomínio e perguntaram de quem eu era funcionário. Eu sou um negro que mora num condomínio de classe média-alta e vivo essa sensação o tempo todo. Acho que as pessoas vão se incomodando porque eu entro, percebo os olhares e falas, mas ando seguro e isso incomoda – declarou.

O artista também é pastor e falou sobre o papel da igreja na luta pela igualdade. Ele afirmou que a igreja evangélica precisa cuidar para não ficar em silêncio “porque é confortável”.

– (Na igreja) é tão estrutural quanto em qualquer outro meio. É uma realidade contra a qual a igreja não quer se levantar porque é confortável. É confortável silenciar alguém que luta e que reivindica espaço. Não é interessante para alguns segmentos não dar resposta sobre certos espaços que são ocupados por um grupo recorrente. Então, a gente teria que ter uma outra entrevista para falar sobre a questão do racismo cultural dentro do ambiente sagrado. É uma conversa um pouco mais forte – afirmou.