No 1º de maio, Lula esquece os trabalhadores, apoia Bolsonaro e ataca o Supremo

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Lula diz que ministro do Supremo não pode mandar no presidente

Pedro do Coutto

Quanto à postura que Lula assumiu, a surpresa é grande, principalmente no Dia do Trabalhador cuja condição estava e está presente na bandeira do partido que formou e com o qual recebeu três derrotas e obteve quatro vitórias nas urnas. Mas esta é outra questão. O importante, vale frisar, é que os trabalhadores e trabalhadoras do país de fato não puderam comemorar a data, como acontece todos os anos. O desemprego é alto, subiu em abril e atingiu, de acordo com o IBGE 12,9 milhões de pessoas.

Isso, de um lado. Já seria motivo suficiente para entristecer os que vivem de seu trabalho e agora se encontram expostos a uma perspectiva de redução salarial acompanhada da diminuição das jornadas de trabalho.

O PIOR DA HISTÓRIA – A jornalista Flávia Oliveira, na edição de ontem de O Globo, publicou artigo classificando o 1º de maio de 2020 como o pior da história.

Vamos falar agora a respeito do apoio de Lula a Jair Bolsonaro. A Folha de São Paulo publicou nesta sexta-feira uma entrevista do ex-presidente ao canal UOL, que também pertence à FSP. Na entrevista, Lula da Silva condenou a decisão do Supremo que impediu a posse de Alexandre Ramagio como diretor geral da Polícia Federal.

Lula sustentou que o presidente da República tem mais autoridade do que um ministro do STF. Não levou em conta que o problema não reside nessa perspectiva. Lula a mim parece que está confrontando o episódio atual com aquele que impediu sua posse como chefe da Casa Civil da presidente Dilma Rousseff.

LANCE DE DADOS – No plano essencialmente político, Lula fez um lance de dados para se aproximar do presidente Jair Bolsonaro. Tenta assim um reflexo de seu apoio na direção do governo de hoje, uma vez que não pode criticar a administração Bolsonaro porque isso seria dar razão ao ex-ministro Sérgio Moro – um ex-ministro que quando juiz em Curitiba o condenou a prisão e teve a decisão mantida pelo Tribunal Regional Federal da 4ª região e pelo Superior Tribunal de Justiça.

Portanto, realmente o ex-presidente não tem razão alguma para se alinhar com Sérgio Moro. Procurou assim uma aproximação com o Palácio do Planalto, provavelmente na esperança de encontrar uma estrada que o leve para o plano político de hoje em dia.

Lula, tenho a impressão, acha possível seu retorno às urnas algum dia. O lance do ataque ao Ministro Alexandre de Moraes tem como objetivo paralelo insinuar uma hipótese de Brasília necessitar de seu apoio nas urnas deste ano. Não só nas urnas deste ano, mas também nas urnas de 2022.

APENAS UMA ILUSÃO – Entretanto, essa hipótese é uma ilusão, porém uma ilusão capaz de realimentar sua presença no palco político até o final do mandato do presidente Bolsonaro.

Lula sabe muito bem não poder ser candidato pela legislação em vigor. Mas o sonho é capaz de devolver a ele o entusiasmo perdido na operação Lava Jato. Lula pode fazer o que quiser, mas no fundo ele sabe que o PT jamais poderá seguir uma orientação sua voltada para impulsionar o esquema político de Bolsonaro.

Em todo caso, a antecipação da campanha para 2022 abre uma brecha na esperança perdida. Lula está perfeitamente ciente que o quadro nacional na disputa do Palácio do Planalto já tem uma figura disposta a ir às urnas para chegar à presidência da República.

DÓRIA NA OPOSIÇÃO – Trata-se do governador João Dória que vem fazendo sua campanha na base da oposição ao governo Bolsonaro. Esse é o panorama de hoje e portanto constitui uma impressão remota do que poderá acontecer no caminho para o Planalto.

Política é algo extremamente mutável. Basta citar o exemplo de Sérgio Moro: de avalista de Bolsonaro transformou-se numa verdadeira onda de oposição ao governo do qual fazia parte.

Em política uma distância de dois anos representa um cenário capaz de mudanças repentinas e de problemas que se levantam pelos caminhos.