No país da piada pronta, criminosos saem do isolamento forçado e ganham liberdade

TRIBUNA DA INTERNET | Custo da violência e da impunidade no Brasil ...

Charge do Newton Silva (newtonsilva.com)

Carlos Newton

Não gosto de ridicularizar o Brasil, mas há momentos em que é preciso reconhecer que se trata do país da piada pronta. Por isso, sempre é muito difícil escolher a Piada do Ano, devido à incomparável criatividade dos brasileiros. Um dos exemplos mais atuais são as notícias de libertação de criminosos de alta periculosidade, para que cumpram pena de prisão domiciliar.

A justificativa é de que a pandemia do coronavírus representa uma ameaça também aos que estão nas prisões, especialmente os que estão na chamada faixa de risco, com mais de 60 anos ou doenças como hipertensão e diabetes.

ISOLAMENTO VOLUNTÁRIO – O mais ridículo é que toda a população do país está hoje submetida ao isolamento voluntário, mantendo-se em prisão domiciliar há quase um mês, deixando de trabalhar e tendo de sustentar o confinamento, porque os boletos das contas continuam a ser cobrados.

Enquanto isso, grande número de criminosos, condenados a isolamento social gratuito, vem ganhando a liberdade, pois são colocados em prisão domiciliar, mas não há tornozeleiras para controlar sua movimentação.

O resultado já era tão esperado quanto uma piada pronta – alguns deles voltaram a cometer crimes no mesmo dia em que foram soltos, era só o que faltava, diria o humorista Barão de Itararé.

GENEROSIDADE ABSOLUTA – O mais incrível é que esta decisão é da Comissão Nacional de Justiça, presidida pelo ministro Dias Tofolli  aquele que soltou criminosos milionários, como os ex-deputados Paulo Maluf e Jorge Picciani, sob alegação de que usam fraldas geriátricas, porque fizeram operação de próstata, embora isso em nada tenha prejudicado suas atividades como parlamentares.

Aliás, é bom lembrar também o caso de José Dirceu, no qual o ministro Toffoli mandou soltá-lo sem que o advogado sequer tivesse solicitado, vejam a que ponto chega a generosidade de nossos juízes.

Agora, com base no habeas corpus do coronavírus, criminosos de toda espécie estão sendo soltos aos magotes, deixando de cumprir o isolamento social forçado para desfrutarem do isolamento voluntário, que maravilha viver, diria Vinicius de Moraes.

MORO PROTESTOU – Apanhado de surpresa, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, protestou contra essa inacreditável leniência do Conselho Nacional de Justiça, dizendo que a segurança da população precisa estar em primeiro lugar, mas ninguém lhe deu ouvidos. E a libertação em massa prossegue, embora não se conheça nenhum caso de contaminação de preso por coronavírus em nenhum presídio do país, mas quem se interessa?

A justificativa das “autoridades” é que o sistema prisional tem superlotação, o que facilitaria a proliferação do coronavírus, com péssimas condições estruturais, proliferação de doenças, como tuberculose e sarna, além da violência interna, e tudo isso provoca rebeliões e mortes de presidiários.

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P.S. –
 Em tradução simultânea, o que se pretende é esvaziar os presídios, que é a maneira mais fácil e barata de resolver a crise do sistema penitenciário. Genial!, como se dizia antigamente; “Bestial!”, como dizem nossos irmãos portugueses, que caem na risada e consideram o Brasil uma grande piada.