Da crítica social a brincadeiras de duplo sentido, criatividade de fantasias não tem limite no Galo

Pernambucanos e foliões de fora mostraram muita disposição e talento para produzir roupas interessantes para o desfile deste ano, no Recife.

Por Geraldo Lélis e Rafael Souza

Na multidão que encarou o calor no desfile do Galo da Madrugada, o maior bloco de carnaval do mundo, segundo o Guiness Book, no Centro do Recife, teve espaço para tudo. A criatividade dos foliões não encontrou limites. Uma fantasia com crítica ao desastre com o óleo no litoral brincou, em harmonia, com as homenagens a pernambucanos ilustres e até com roupas de “tiradas” inteligentes e de duplo sentido.

A frase de um integrante do governo federal sobre o desastre ambiental com o óleo, em outubro de 2019, inspirou a brincadeira do grupo liderado por Luiz Fernando: os peixes inteligentes.

Ele lembrou que o secretário de Pesca, Jorge Seif, disse, na época, que os peixes eram inteligentes e desviariam do óleo. “Não poderíamos deixar passar em branco essa pérola”, justificou.

Os "fantasmas do comunismo"  "assombraram" o desfile do galo da Madrugada, no Recife  — Foto: Rafael Souza/G1

Os “fantasmas do comunismo” “assombraram” o desfile do galo da Madrugada, no Recife — Foto: Rafael Souza/G1

Na mesma linha, fazendo paródia com a política, dois foliões encarnaram “os fantasmas do comunismo”. Vestidos de vermelho, com o corpo todo coberto, eles ainda empunhavam a bandeira com a foice e o martelo, símbolos do regime que perdurou em alguns países como a antiga União Soviética.

Paulo e Tereza estavam evitando o "Bozovírus", no galo da Madrugada, no Recife — Foto: Rafael Souza/G1

Paulo e Tereza estavam evitando o “Bozovírus”, no galo da Madrugada, no Recife — Foto: Rafael Souza/G1

Com máscaras de médico, foliões brincaram com o medo de um vírus. Mas não era o corona. Paulo e Tereza, de Paulista, disseram que a fantasia é política: “é pra prevenir do BozoVírus”, dizem, em indireta ao presidente da República.

Will levou o casamento de Bolsonaro com Regina Duarte para o Galo  — Foto: Rafael Souza/G1

Will levou o casamento de Bolsonaro com Regina Duarte para o Galo — Foto: Rafael Souza/G1

Will Cruz, de Camaragibe, levou o “casamento” de Regina Duarte com o governo Bolsonaro para o Galo.Era mais um exemplo de sátira política no carnaval 2020, com a “Namoradinha do Brasil que virou secretária”.

Homenagem a Jota Borges, xilogravurista pernambucano, marcou presença no Galo  — Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press

Homenagem a Jota Borges, xilogravurista pernambucano, marcou presença no Galo — Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press

Na lista de fantasias com dedicatórias a pessoas famosas se destacou uma lembrança ao xilogravurista pernambucano Jota Borges, um dos homenageados no Galo, em 2020.

Natural de Bezerros, no Agreste, terra de Jota Borges, Marquinhos da Pousada vestiu uma roupa que era uma verdadeira xilogravura. “Sou amigo de Jota e vim sem avisar a ele. Amanhã, estarei em Bezerros também com essa fantasia”, comenta.

Mangueira ecológica foi uma das fantasias criativas no desfile do Galo  — Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press

Mangueira ecológica foi uma das fantasias criativas no desfile do Galo — Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press

Na linha de fantasias criativas, Waldemar Lima descobriu uma forma de brincar e “se proteger” do sol forte. Ele montou uma “mangueira ecológica”, cheia de plantas.

“Começou quando todos os meus amigos iam brincar de fantasia, e eu não tinha nenhuma. Aí improvisei com as folhas de uma mangueira. Este ano, pintei de rosa em homenagem à escola de samba, do Rio de Janeiro”, explica.

Com brincadeira de duplo sentido, folião exibe plaquinha com, a frase: "pinto com talento" — Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press

Com brincadeira de duplo sentido, folião exibe plaquinha com, a frase: “pinto com talento” — Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press

Um folião foi flagrado no meio da multidão com uma plaquinha pendurada até perto da cintura. Nela, estava escrito: “pinto com talento”, mostrando a capacidade de divertir e mandar mensagens de “duplo sentido” em meio à folia pernambucana.

Na farra do galo também teve espaço para fantasia de padre e freira. Meninas se vestiram de “diabinhas”. Chapolin Colorado brincou no mesmo bloco do Homem-Aranha, coberto da cabeça aos pés, e de “almas penadas” e bruxas.

Diabinhas brincaram no Recife, com a alegoria gigante do Galo, ao fundo — Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press

Diabinhas brincaram no Recife, com a alegoria gigante do Galo, ao fundo — Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press

Grupos fora de Pernambuco entraram na onda de fantasias e capricharam no visual. Diretamente de Natal, no Rio Grande do Norte, dez amigos se vestiram “literalmente “ de galo, dos pés à cabeça.

O que vem há mais tempo da turma, Geraldo, diz que está completando 35 anos de festa: “fui o primeiro, depois reuni os outros”, conta.

A foliona Magda, uma das mais animadas do grupo, diz que gosta muito do pré-carnaval potiguar, mas que a folia oficial é em Pernambuco: “as prévias em Natal são sensacionais, mas o carnaval é aqui no Galo”, explica.

 

Da cabeça aos pés, grupo de Na\tal (RN) se vestiu de galo para homenagear o clube, no Recife  — Foto: Marlon Costa?pernambuco Press

Da cabeça aos pés, grupo de Na\tal (RN) se vestiu de galo para homenagear o clube, no Recife — Foto: Marlon Costa?pernambuco Press

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