Em entrevista, Bolsonaro demonstra que Onyx Lorenzoni vai permanecer no governo

Onyx havia deixado o Alvorada pouco antes da saída do presidente

Gustavo Maia, 

Daniel Gullino e Naíra Trindade
O Globo

De volta das férias, abreviadas por causa da crise que se instalou na Casa Civil do Palácio do Planalto, o ministro Onyx Lorenzoni foi chamado nesta sexta-feira à tarde pelo presidente Jair Bolsonaro para uma reunião ministerial no Palácio da Alvorada que discutiu a resposta brasileira ao coronavírus. Em meio a rumores de demissão ou realocação de Onyx para outra pasta, Bolsonaro disse ao Globo que o “convite responde muita coisa”, sinalizando a permanência do ministro no governo.

“Ele esteve hoje, convocado por mim, para discutir a questão do coronavírus. Acho que [o] convite responde muita coisa”, afirmou o presidente, por mensagem.

COM WEINTRAUB – Em seguida, Bolsonaro compartilhou uma foto em que aparece ao lado do ministro da Educação, Abraham Weintraub, publicada também em suas redes sociais. Segundo o que ministros palacianos classificam como “boataria”, Onyx substituiria Weintraub na pasta em uma “saída honrosa”, como avaliam aliados do chefe da Casa Civil.

Quando chegou dos Estados Unidos ao aeroporto de Brasília, o ministro foi enfático ao dizer que “claro que não” considera entregar o cargo. Ele minimizou as baixas que seu ministério sofreu ao longo da semana, mas não chegou a discutir com o presidente a demissão do ex-secretário-executivo Vicente Santini e a retirada do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), transferido para o guarda-chuva de Paulo Guedes no Ministério da Economia.

Onyx reafirmou ser um “soldado” de Bolsonaro e disse estar focado na mensagem que entregará ao Congresso na abertura do ano legislativo, na segunda-feira. Neste sábado, ele tem outro encontro marcado com o presidente, desta vez em uma conversa privada, para “entender as razões” do chefe.

As cenas foram transmitidas ao vivo pela página do presidente no Facebook. Bolsonaro então olhou para a câmera e falou aos espectadores: “Ao pessoal que tá ouvindo aqui, a entrevista tratava exclusivamente da questão do coronavírus e quando começam outras perguntas, a gente sai fora porque o que nós queremos é solução para o Brasil, e não problema”, comentou.


CRISE –  Em meio à crise que culminou na demissão do ex-secretário-executivo da Casa Civil, Vicente Santini, e na retirada do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) da pasta, ao longo da semana, o ministro antecipou o fim das férias e retornou na manhã desta sexta para Brasília. Na chegada ao aeroporto, ele disse que não cogita deixar o governo.

Santini foi exonerado, readmitido e depois demitido novamente por ter usado um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para uma viagem à Índia. O presidente classificou o uso da aeronave como “completamente imoral” e demitiu o ex-secretário-executivo da Casa Civil.

No entanto, no mesmo dia ele foi nomeado como assessor especial de relacionamento externo, atendendo a um apelo do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e do senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ). No dia seguinte, o presidente disse que tornaria “sem efeito” a nova nomeação.

EPISÓDIOS – Segundo a colunista Bela Megale, dois episódios fizeram Bolsonaro voltar atrás: o presidente não gostou da nota divulgada pela Casa Civil que “falava em seu nome” e de conversas de corredor que Santini teve com palacianos depois que eles se reuniram na quarta-feira.

Em um outro capítulo, o Programa de Parceria de Investimentos (PPI) foi transferido da Casa Civil para o Ministério da Economia. A medida foi publicada no Diário Oficial nesta sexta-feira. Anteriormente, o PPI havis sido transferido para a Casa Civil em junho, após a pasta do ministro Onyx ter perdido a função de articulação política.

REUNIÕES – Pouco antes do meio-dia, o ministro foi para o Palácio do Planalto, onde se reuniu com o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno. À tarde, Bolsonaro publicou em edição extra do Diário Oficial da União um despacho oficializando a interrupção das férias de Onyx, previstas para durar até o próximo domingo. E o ministro foi participar de reunião no Palácio da Alvorada, sem falar com a imprensa.

Na entrevista, Bolsonaro era acompanhado pelos ministros Luiz Henrique Mandetta (Saúde), Ernesto Araújo (Relações Internacionais), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Fernando Azevedo (Defesa). Além deles, também participaram da reunião Augusto Heleno e Jorge Oliveira (Secretaria-Geral da Presidência).

No Palácio do Planalto, conversas de bastidores indicam a possibilidade de uma minirreforma ministerial para dar uma “saída honrosa” a Onyx, que poderia migrar para o Ministério da Educação. Segundo relatos de auxiliares do presidente e de ministros, o titular da pasta, Abraham Weintraub, poderia migrar para a Secretaria-Geral e Jorge Oliveira iria para a Casa Civil. Até o momento, no entanto, Bolsonaro não se manifestou publicamente sobre a suposta articulação.

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