De acordo com o órgão, ele tinha resquícios de dietilenoglicol. Polícia apura relação de internações e mortes com consumo de cerveja contaminada.
Por Lucas Ragazzi
A auditoria feita pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) na fábrica da cervejaria Backer constatou, nesta quarta-feira (15), mais um tanque contaminado com dietilenoglicol. A informação foi revelada à TV Globo por integrantes da investigação.
Especialistas do Mapa periciam a fábrica da Backer desde a última quinta-feira (9). Com a descoberta de mais um tanque com a substância, existem suspeitas de que a contaminação possa ter sido causada em uma fase anterior, em que todas as marcas de cerveja da empresa passam.
Essa informação levou o ministério a solicitar o recall e suspensão de vendas de toda a cervejaria.
Em nota, a Backer não se pronunciou sobre o tanque. Disse apenas que se solidariza com pacientes e familiares. “E reforça sua atenção e seu compromisso em disponibilizar todo o suporte necessário para cada um deles”.
Polícia confirma mais uma morte por síndrome nefroneural em BH
Na manhã desta quarta-feira (15), a Polícia Civil de Minas Gerais confirmou uma segunda morte decorrente da síndrome nefroneural.
A vítima é um homem, que não teve a identidade e a idade divulgadas até a última atualização desta reportagem. O paciente morreu no Hospital Mater Dei, Região Centro-Sul de Belo Horizonte. O corpo deverá passar por exames e perícia no Instituto Médico Legal (IML).
Polícia Civil confirma 2ª morte relacionada à síndrome nefroneural
Uma força-tarefa investiga a relação das internações e mortes com o consumo da cerveja Belorizontina, da fabricante Backer. A substância tóxica dietilenoglicol foi encontrada em lotes do produto. Esta é a segunda morte relacionada ao caso confirmada oficialmente pela Polícia Civil.
Uma terceira morte ainda resta ser confirmada. Trata-se de uma mulher com sintomas da síndrome nefroneural em Pompéu, região Centro-Oeste de Minas Gerais. Este caso não constava no último balanço oficial da SES, mas a Secretaria Municipal de Pompéu informou ter notificado a pasta estadual.
Entre os sintomas da síndrome nefroneural estão alterações neurológicas, além de insuficiência renal. De acordo com a presidente da Sociedade Mineira de Nefrologia, Lilian Pires de Freitas do Carmo, os primeiros sinais de intoxicação por dietilenoglicol são dores abdominais, náuseas e vômitos. O tratamento é feito no hospital, com monitoração, e tem o etanol como antídoto.
Lotes contaminados com substância tóxica
Em dois dias 568 garrafas da cerveja belorizontina já foram entregues em BH
Um laudo divulgado pela força-tarefa que apura o caso aponta que os lotes L1 1348, L2 1348 e L2 1354 estão contaminados por dietilenoglicol e monoetilenoglicol. A Backer considera que são dois lotes, sendo L1 1348 e L2 1348 duas linhas diferentes de um mesmo lote.
Substância tóxica foi encontrada em amostras de lotes da Belorizontina, que também usa o rótulo Capixaba, e em um tanque reservatório de liquido anticogelante, usado no processo de fabricação das cervejas da Backer.
Uma perícia contratada pela própria cervejaria confirmou a presença de dietilenoglicol na cerveja, conforme mostra o vídeo abaixo. Em nota divulgada no início desta tarde, a empresa informou que a “ainda está em andamento” e que “precisa aguardar a conclusão dos laudos para compartilhar os resultados com a sociedade”.
A Backer disse ainda que “é a principal interessada na apuração dos fatos e que o objetivo é auxiliar e contribuir sem restrições com as autoridades.”
Perícia contratada pela Backer confirma substância tóxica em cerveja
Processo cervejeiro — Foto: Arte/G1
Casos de intoxicação por dietilenoglicol são investigados em MG
O último boletim divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES), nesta terça-feira (14), apontava 17 pacientes, em Belo Horizonte e em outras cinco cidades do estado. Já a Polícia Civil investiga 18 caso.
Conforme a secretaria, são 12 notificações na capital mineira e os demais casos notificados são de moradores de:
- Nova Lima, na Região Metropolitana;
- São João Del Rei, no Campo das Vertentes;
- São Lourenço, no Sul de Minas;
- Ubá, na Zona da Mata;
- Viçosa, na Zona da Mata.
Em quatro pessoas foram confirmadas a intoxicação pela substância tóxica dietilenoglicol.
Cidades onde foram notificados sintomas de intoxicação — Foto: Editoria de Arte/Globo
‘Não bebam a Belorizontina’
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) determinou, nesta segunda (13), que todas as cervejas da marca sejam recolhidas e que seja suspensa a venda de produtos. A medida é válida para qualquer rótulo da cerveja, além dos chopes, fabricado entre outubro de 2019 e janeiro. A Backer informou que pediu mais prazo à Justiça para fazer orecall.
A diretora de marketing da Backer, Paula Lebbos, pediu em entrevista coletiva nesta terça-feira (14) que as pessoas não consumam a cerveja alvo da investigação. A orientação vale também para a cerveja Capixaba, que é produzida no mesmo tanque e possui a mesma fórmula da Belorizontina, porém com rótulo diferente.
“O que estou pedindo é que não bebam a [cerveja] Belorizontina, qualquer que seja o lote. Eu não sei o que está acontecendo”, disse ela.
No início desta tarde desta terça (14), a Polícia Civil e o Mapa vistoriaram novamente a cervejaria Backer no bairro Olhos D’Água, na Região Oeste de BH. Nesta quinta-feira, a fábrica seguia interditada.