Líderes e jornais internacionais repercutem a soltura de Lula

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Saída do ex-presidente da prisão é celebrada por líderes de esquerda da América do Sul, sugerindo o possível retorno da Maré Rosa

Líderes e jornais internacionais repercutem a soltura de Lula
No Brasil, MBL e Vem Pra Rua convocaram protestos contra a soltura do ex-presidente (Foto: Twitter/Bruno Campos)

A soltura do ex-presidente Lula foi destaque entre líderes e jornais internacionais na noite da última sexta-feira, 8.

New York Times destacou que a soltura do ex-presidente pode acirrar a polarização política no Brasil. O britânico Guardian apontou que a saída de Lula encantou seus apoiadores enquanto enfureceu seguidores do presidente Jair Bolsonaro. O francês Le Monde noticiou a soltura e classificou como “controverso” o julgamento que levou Lula à prisão.

Financial Times lembrou que a soltura de Lula é um reflexo da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de derrubar a prisão em segunda instância, medida que beneficia pelo menos outros 15 presos no âmbito da Operação Lava Jato. O jornal cita ainda que o ex-presidente ainda enfrenta outros processos por corrupção que podem minar seu retorno à política.

O argentino Clarín destacou a soltura, a reação do governo Bolsoanro e publicou uma matéria na qual o presidente eleito Alberto Fernández celebra a saída de Lula da prisão.

Já entre líderes internacionais, a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, foi uma das primeiras e mais efusivas a se manifestar. “Feliz em saber que o ex-presidente brasileiro Luis Inácio Lula da Silva acaba de ser libertado. Espero ele em Paris, onde é Cidadão Honorário”, escreveu Hidalgo, em sua conta oficial no Twitter. Nas horas seguintes, a prefeita parisiense retuitou outras postagens exaltando a saída do ex-presidente.

O senador e pré-candidato democrata às eleições americanas Bernie Sanders se disse “encantado” pela notícia. “Como presidente, Lula fez mais do que ninguém para diminuir a pobreza e defender os trabalhadores. Estou encantado por ele ter sido libertado da prisão, algo que nunca deveria ter acontecido em primeiro lugar”, escreveu o senador americano.

Na América do Sul, a repercussão entre líderes de esquerda foi grande – o que indica o possível recrudescimento da chamada Maré Rosa, termo usado para designar a ascensão no início dos anos 2000 de partidos políticos de esquerda. Embora o governo Lula tenha se enquadrado mais à centro-esquerda, o ex-presidente foi a força motriz dessa agenda integracionista na região. E sua soltura, somada à ascensão de líderes de esquerda em eleições de países vizinhos, sugere o possível retorno dessa política.

O ex-presidente do Uruguai Pepe Mujica, eleito senador este ano, comentou a notícia em uma entrevista. “Creio que o Brasil e a América recuperam alguém que, apesar de tudo, segue sendo um símbolo, o que será seguramente por muito tempo. Se acreditasse em Deus, teria que agradecer”, disse Mujica na entrevista.

O recém eleito presidente da Argentina, Alberto Fernández, também celebrou a soltura. “Comove a força de Lula para enfrentar essa perseguição (só isso define o processo judicial arbitrário ao qual foi submetido). Sua integridade demonstra não apenas o compromisso, mas a imensidão daquele homem”, escreveu Fernández.

A vice na chapa de Fernández, Cristina Kirchner, também celebrou a soltura pelo Twitter. “Encerra hoje uma das maiores aberrações de lawfare [guerra com uso de meios judiciais] da América Latina: a privação ilegítima da liberdade do ex-presidente da República Federativa do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva”, escreveu a ex-presidente da Argentina.

O venezuelano Nicolás Maduro expressou “profunda alegria pela libertação”. “A verdade triunfou no Brasil. Em nome do povo da Venezuela, expresso minha profunda alegria pela libertação de meu irmão e amigo Lula, que estará novamente nas ruas para liderar as justas causas de brasileiras e brasileiros”, escreveu Maduro.

Assim como Anne Hidalgo, o presidente cubano Miguel Díaz-Canel também foi efusivo, publicando não apenas um, mas três tuítes sobre a soltura de Lula. No primeiro, acompanhado da cena de Lula deixando a carceragem, ele diz: “Derrote a estratégia imperial de seus lacaios. Abraços ao incansável lutador que nunca abaixou as bandeiras da dignidade”.

No segundo tuíte, ele diz que a soltura “é um feito e um triunfo do povo, da solidariedade e da verdade”. Já no último, ele compartilhou um artigo de Fidel Castro, no qual o falecido líder cubano expõe suas impressões sobre Lula, a quem chama de “líder no qual se pode depositar as esperanças”.

No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro, que a princípio adotou uma postura comedida em relação à soltura de Lula, afirmando que “não iria entrar em canoa furada”, elevou o tom neste sábado, 9.

Em sua conta oficial no Twitter, sem citar diretamente Lula, Bolsonaro escreveu: “Não dê munição ao canalha que momentaneamente está livre, mas carregado de culpa”.

A postagem era acompanhada de um discurso do presidente, no qual ele exaltou o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, a quem críticos acusam de conduta irregular nos julgamentos da Lava Jato e de ter cooperado para eleger Bolsonaro em troca do cargo de ministro.

“Fico imaginando o que passa na cabeça de cada um de vocês. A vontade de acertar, de mudar o destino do Brasil. Mas botem na cabeça de vocês, nós, pessoas de bem, somos a maioria no Brasil. Ninguém faz nada sozinho, temos que ter uma equipe do nosso lado, e a confiança está acima de tudo. Eu tive a grande satisfação de ser eleito, ser, talvez, o único que está cumprindo o que prometeu durante a campanha. Num primeiro momento, escolhi uma boa equipe de 22 ministros para estarem ao meu lado. Um aqui presente no momento, Sergio Moro. Que quando eu convidei, depois, inclusive, Moro, teve um incidente no aeroporto entre nós dois, o pessoal deve se lembrar. Mas aquilo foi por uma situação de não atrapalhar o bom serviço que ele vinha executando. Ele não poderia se aproximar de políticos, não poderia ter um partido como não teve e não tinha. Ele estava cumprindo com a sua missão, se essa missão dele não fosse bem cumprida, eu também não estaria aqui. Então, em parte, o que acontece na política do Brasil devemos a Sergio Moro”, disse o presidente, fazendo uma referência ao episódio ocorrido em março de 2017,em que encontrou Moro em um aeroporto em Brasília, bateu continência para o então juiz, que respondeu apenas um rápido sorriso e se afastou em seguida.

O filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), foi mais incisivo em suas críticas à soltura de Lula, compartilhando e retuitando uma série de postagens contra a medida e contra decisão do STF de derrubar a prisão em segunda instância.

“Hoje é um dia muito triste pra quem trabalha, pra quem é honesto no país, porque o recado que se dá é de que o crime compensa e se você for politico, aí que você fica blindado de qualquer tipo de punição. Como parlamentar, agora, a gente tem que canalizar essa energia para aprovar a PEC que vai colocar na Constituição a prisão em segunda instância”, disse o deputado em um vídeo compartilhado na rede social.

Os movimentos Brasil Livre (MBL) e Vem Pra Rua convocaram protestos em pelo menos 20 estados contra a soltura de Lula e a decisão do STF para este sábado, 9.

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