Confrontos violentos deixam um morto na Bolívia e prefeita é humilhada por opositores

No total, 95 ficaram feridas nas cidades de Cochabamba, Quillacollo e Vinto; Patricia Arce teve o cabelo cortado, foi pintada de vermelho e obrigada a andar em meios a gritos de ‘assassina’
A polícia resgata a prefeita de Tinto, Patricia Arce Guzman, após ter sido agredida e humilhada por opositores em confrontos violentos Foto: DANIEL JAMES - LOS TIEMPOS BOLIV / LOS TIEMPOS BOLIVIA/ via REUTERS
A polícia resgata a prefeita de Tinto, Patricia Arce Guzman, após ter sido agredida e humilhada por opositores em confrontos violentos Foto: DANIEL JAMES – LOS TIEMPOS BOLIV / LOS TIEMPOS BOLIVIA/ via REUTERS

— O dia de ontem pode ser qualificado como o dia da vergonha, da ignomínia, do suplício — disse García Linera, ao acusar a oposição de provocar a violência.

Mesa, por sua vez, chamou de cinismo o pedido de Linera e disse que o jovem foi “brutalmente assassinado por militantes do MAS”.

A vítima é Limbert Guzmán, que deu entrada no hospital com “traumatismo cranioencefálico grave, fratura na base de crânio e morte cerebral, e apresentou parada cardiorrespiratória”, segundo o boletim médico. O canal de TV Unitel mostrou estudantes com escudos de metal para se proteger dos objetos lançados.

“Expresso meu profundo pesar pelo falecimento do jovem Limbert Guzmán, vítima inocente da violência promovida por grupos políticos que estimulam o ódio racial entre irmãos bolivianos”, tuitou Morales.

A irmã da vítima disse que o jovem era pago para protestar contra Morales.

—  O partido de (Carlos) Mesa e (Luis Fernando) Camacho o pagava e, enquanto estudava, queria ganhar alguns centavos —  disse Aida Guzmán.

Camacho é um empresário que dirige o Comitê Cívico de Santa Cruz e vem pedindo a renúncia de Morales.

Em meio aos confrontos, a sede da prefeitura da cidade vizinha de Vinto, a 15 quilômetros de Cochabamba foi incendiada e a prefeita, agredida. Patricia Arce teve o cabelo cortado, foi pintada de vermelho e obrigada a andar descalça por vários quarteirões em meios aos gritos de “assassina! assassina!”. Após horas retida, a prefeita foi resgatada pela polícia.

A ONU e o governo de La Paz condenaram a violência contra a prefeita. Em um comunicado emitido por seu escritório local, as Nações Unidas afirmaram que “deploram a violência e o tratamento desumano da prefeita do município de Vinto, bem como os ataques contra outras mulheres, homens, jovens, meninas e meninos”.

No Twitter, Morales escreveu que prestava  “toda a solidariedade à nossa irmã prefeita de Vinto, Patricia Arce, sequestrada e vexada cruelmente por expressar e defender seus ideais e os princípios dos mais pobres”.

Após a violência nos protestos de quarta-feira, bispos bolivianos iniciaram contatos preliminares para tentar estabelecer um diálogo entre governo e oposição.

— Já entramos em contato com o governo e estamos esperando a resposta —  disse o arcebispo de Sucre, Jesús Juárez, a repórteres.

Os confrontos em Cochabamba começaram quando uma marcha de plantadores de coca e outros setores que apoiam o MAS chegaram à cidade. Ao chegar ao centro, colidiram com os membros da chamada “Resistência da Juventude Cochala”, que se deslocam em motos com paus e escudos fabricados artesanalmente. A polícia interveio e usou gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes.

Mais cedo, Luis Fernando Camacho , que tem se apresentado como líder de uma ala radical da oposição, voltou a La Paz para tentar desafiar novamente Morales com a entrega de uma carta de renúncia para que assine.

“Tenho a esperança de que vamos conseguir nosso objetivo”, declarou Camacho em um vídeo no Facebook duas horas após pousar no aeroporto de El Alto, cidade vizinha a La Paz, vindo de Santa Cruz. “Viemos buscar a paz do país, não queremos dividir a Bolívia, queremos uma só Bolívia.”

Camacho saiu do aeroporto em um veículo protegido pela polícia, mas não seguiu para a sede do governo, onde era esperado por dezenas de jornalistas. Mais tarde, em entrevista coletiva, ele disse que não vai sair de La Paz enquanto não entregar a carta de renúncia a Morales, que prometeu levar junto com uma Bíblia, “para que Deus volte ao palácio” de governo.

O ministro da Defesa, Javier Zavaleta, disse que Camacho “pode entregar as cartas que quiser” na sede da Presidência, mas não será recebido por Morales. O dirigente de Santa Cruz respondeu que a missiva “não será entregue por nenhuma janela”.

O GLOBO

 

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