Machado, sempre. Por FRANCISCO DACAL

 Por FRANCISCO DACAL – Escritor e administrador de empresas                                                                                                                          

    Na sessão ordinária da Academia Pernambucana de Letras, no último dia 14 de outubro, o acadêmico Lourival Holanda fez a conferência: Machado de Assis hoje. Com maestria, falou sobre as habilidades da escrita machadiana. A sutileza, o humor e as notas da sociedade da época, centrado no livro Memorial de Aires, ademais de outros.

    Durante o debate, uma questão interessante foi sobre a limitada internacionalização de Machado de Assis, um ponto ainda a reparar, frente às suas inegáveis qualidades, e a extensa obra, que tiveram o valioso reconhecimento do grande crítico literário americano Harold Bloom (recentemente falecido), ao colocá-lo entre os classificados no livro Gênio: os 100 autores mais criativos da história da literatura.

    No ensejo, houve comentários sobre a admiração que o escritor mexicano Carlos Fuentes, um dos maiores não premiado Nobel de Literatura, tinha pelo Bruxo do Cosme Velho, a quem considerava o mais destacado novelista ibero-americano do século 19. Baseado na influência cervantina demonstrada, notadamente nos livros O Alienista, Quincas Borba e Memórias Póstumas de Brás Cubas, Fuentes escreveu um ensaio intitulado Machado de la Mancha, onde afirma ser ele, “Machado, o milagroso, um adiantado no universo da imaginação e da ironia, da mestiçagem e do contágio, em um mundo ameaçado cada dia mais pelos verdugos do racismo, da xenofobia, do fundamentalismo religioso e de outro implacável fundamentalismo: o do mercado”.

    Apesar de pouco conhecido, mas, alinhado a este assunto, e bem atual, é o conto Teoria do Medalhão, publicado inicialmente em jornal e depois no livro Papéis Avulsos. Nele, o autor carioca narra às orientações dadas pelo pai ao filho, logo após a festa de aniversário de 21 anos deste, visando facilitar-lhe a conquista de um futuro de sucesso superior ao normal. Diz, entre outras coisas, ”podes entrar no parlamento, na magistratura, na imprensa, na lavoura, na indústria, no comércio, nas letras ou nas artes. Há infinitas carreiras diante de ti. Nenhuma me parece mais útil que o ofício de medalhão”. As dicas, paterna, até no sentido de se fazer uso de propaganda enganosa, limitando as possíveis qualificações do filho e o ímpeto da natural evolução, é para que o querido rebento tenha como prioridade a conquista da riqueza, de posição social e fama, ou seja, torne-se um medalhão – uma ironia, considerando o significado da palavra: figura importante e que se destaca muito mais do que o necessário, às vezes sem merecer. Enfim, seguindo o filho as recomendações feitas pelo pai, por exemplo, entre os possíveis benefícios, pode vir a ocupar um cargo importante, sem preencher os requisitos, uma posição irreal, ou se tornar uma figura indispensável em festas, pelo adorno projetado.

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