Encontrado na Amazônia, animal é o mais potente gerador biológico de eletricidade
A criatura capaz de funcionar como o mais potente gerador biológico de eletricidade é uma espécie recém-descoberta de peixe brasileiro. Trata-se do Electrophorus voltai, popularmente conhecido como poraquê, que chega a produzir descargas de 860 volts – quase oito vezes o gerado por uma tomada comum de 110 volts.
“No entanto, a duração da descarga é bastante reduzida, de um a três segundos”, diz Carlos David de Santana, pesquisador brasileiro que trabalha no Museu Nacional de História Natural dos EUA.
Junto com colegas de outras instituições do Brasil e do exterior, Santana assina um novo estudo que modificou bastante o “álbum de família” desses estranhos peixes com forma de enguia, que podem alcançar até 2,5 metros e estão presentes nos rios da Amazônia e regiões vizinhas. Antes do trabalho que acaba de ser publicado na revista especializada “Nature Communications”, reconhecia-se a existência de um único tipo de poraquê, o Electrophorus electricus.
O bicho foi descrito originalmente pelo pai da nomenclatura usada ainda hoje para designar as espécies de seres vivos, o naturalista sueco Carl von Linné (1707-1778), também conhecido como Lineu.
No entanto, fazia sentido imaginar que houvesse uma diversidade maior entre os grandes peixes-elétricos amazônicos, diz Santana, uma vez que os animais são encontrados numa área ampla, em ambientes heterogêneos, incluindo rios mais barrentos e mais claros, mais lentos e mais rápidos e com presença variada de minerais e matéria orgânica na água.
Variedade. A intuição estava correta. Conforme revelaram exames de DNA e análises detalhadas do formato do crânio e regiões vizinhas do esqueleto dos animais, tudo indica que existem ao menos três espécies de poraquê, que começaram a se separar há 7 milhões de anos.
Além do E. voltai, com seus choques potentíssimos e habitando principalmente os rios que correm do Brasil Central rumo à Amazônia, e do E. electricus (choques mais fracos, de até 480 volts, e habitat na região mais montanhosa das Guianas), há também o E. varii, cujos choques alcançam 572 volts e que é encontrado na calha central do Amazonas, em áreas mais baixas.
É provável que a divisão de populações que deu origem às atuais espécies tenha começado quando o atual Amazonas estava se formando e estabelecendo o fluxo atual do rio, que vai do oeste ao leste da América do Sul (antes, tudo indica que a correnteza fluísse no sentido contrário, rumo ao oeste). Estudar os bichos pode trazer aplicações interessantes para a biotecnologia e a eletrônica, inspirando o design de baterias para implantes médicos, por exemplo.