Crises de Bolsonaro são agravadas de forma proposital pela grande mídia

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Charge do Duke (dukechargista.com.br)

Mário Assis Causanilhas

É incrível como a imprensa, desde janeiro, vem artificializando crises no governo Bolsonaro. Já foi o Mourão, depois o Moro, são as “pesquisas”, incêndios e desmatamentos – como se essas coisas tivessem se iniciado agora. Com a proximidade das eleições municipais, em 2020, começam as intrigas com possíveis candidatos. Essa imprensa precisa tomar juízo e ter mais responsabilidade.

Diretor de redação da revista Época por 9 anos, tem um olhar único sobre o noticiário. Vai ajudar você a entender melhor o Brasil e o mundo. Sem provincianismo

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BOLSONARO MANTÉM ELEITOR FIEL

Helio Gurovitz

A pesquisa Datafolha confirma o quadro revelado pelas duas últimas sondagens que vieram a público nos últimos dias: a popularidade do presidente Jair Bolsonaro está em queda, mas resiste nos bastiões mais fieis do eleitorado e lhe garante em torno de 30% de apoio na população brasileira.

No Datafolha, Bolsonaro registra 29% de avaliação “ótimo’ e “bom”. Na pesquisa Veja/FSB, realizada antes do enfrentamento com o francês Emmanuel Macron em torno da Amazônia, eram 30%. Na CNT/MDA, cujos dados foram coletados no fim de semana da crise internacional, 29%. Nas três, o patamar é semelhante e estável, pouco inferior a um terço do eleitorado.

A parcela dos eleitores que julgam o governo “ruim” ou “péssimo” subiu no Datafolha de 33% (julho) para 38% (agosto). Na CNT/MDA, foi de 19% (fevereiro) para 39,5% (agosto). Na FSB/Veja, era de 35% em agosto (não há resultado para meses anteriores). O patamar de reprovação é também compatível, entre um terço e 40% dos eleitores.

“REGULAR” – Aqueles que consideram o governo Bolsonaro regular são 30% no Datafolha, 29% na CNT/MDA e 33% na FSB/Veja. Novamente, uma fatia semelhante, correspondente a pouco menos de um terço dos brasileiros.

Que tais números permitem afirmar sobre o futuro político do presidente? Em primeiro lugar, que ele mantém a fidelidade de sua base, apesar de todas as declarações desastradas e confusões em que se meteu desde o início do governo. Como afirmei em análise da semana passada, a resiliência de Bolsonaro surpreende.

Sua reprovação, embora superior à de todos os presidentes eleitos no primeiro mandato desde a redemocratização, não é suficiente para colocá-lo no fosso profundo das duas últimas gestões, Michel Temer e Dilma Rousseff, cujo apoio não chegava a 10%.

NAS MESMAS FAIXAS – Os grupos que o apoiam se concentram basicamente nas mesmas faixas responsáveis por sua eleição no ano passado. Entre empresários, 48% veem o governo como “ótimo” ou “bom”, resultado provável do programa de reformas liberais conduzido pelo ministro Paulo Guedes. Entre evangélicos, são 46%.

No grupo daqueles que têm renda entre dois a cinco salários mínimos e nível de escolaridade intermediário, que concentra perto de 40% do eleitorado, o apoio registrado pelo Datafolha é de 34%. Uma parcela significativa e representativa do Brasil mantém, portanto, a crença no governo, em que pese o noticiário negativo.

Tal parcela será suficiente para conduzir Bolsonaro à reeleição? Sozinha, dificilmente. Mas isso não significa que seja desimportante. Ao contrário. O único grupo político no Brasil que reúne fatia semelhante do eleitorado é o PT. Desde a redemocratização, sempre que houve segundo turno nas eleições presidenciais, um candidato era petista.

E A REELEIÇÃO? – A persistir o atual quadro, portanto, o mais razoável a esperar em 2022 é um segundo turno entre Bolsonaro e quem quer que seja o nome escolhido pelo PT ou pela esquerda para concorrer. No confronto polarizado, as chances de Bolsonaro dependerão basicamente da economia. Mais especificamente, de quanto será possível resgatar o crescimento (o 1% anual que vem sendo registrado será pouco) e derrubar o desemprego (ainda alto, de quase 12%).

O único nome que poderia desafiar Bolsonaro dentro de seu campo político seria o ministro Sergio Moro, que apareceu na semana passada sorrindo ao lado do chefe, depois de uma sucessão de sabotagens e conflitos. Falta a Moro o talento político para lidar com o universo de Brasília. Se decidir partir para o voo solo, terá um enorme desafio de amealhar apoio entre partidos e coalizões estaduais com que não tem a menor familiaridade. Por ora, o mais provável é que fique onde está.

FRENTE DE CENTRO – Outra possibilidade é a criação de uma frente de centro para enfrentar a polarização, capaz de atrair partidos como Cidadania, Rede, PSB, PSDB e mesmo DEM. É essa a tentativa do governador paulista, João Doria, ou da articulação em torno do apresentador Luciano Huck, reunindo nomes como o ex-governador Paulo Hartung e o economista Armínio Fraga.

Será difícil, porém, qualquer nome desse tal “centro” construir uma candidatura sólida diante dos dois polos consolidados e resilientes, em torno do petismo e do bolsonarismo.

ELEITORADO FIEL – Tanto o afastamento de Moro quanto tal articulação, porém, chamam a atenção para uma questão essencial: a reeleição de Bolsonaro não dependerá dos dois polos. Nem do terço do eleitorado fiel, que provavelmente votará nele de qualquer jeito. Nem do terço que não votará nele de jeito nenhum. Dependerá daqueles 30% que hoje veem o governo como “regular”.

Dependerá, sobretudo, da capacidade de Bolsonaro atrair de volta a seu campo aqueles que o abandonaram desde a posse. É verdade que ele tem tempo suficiente. Mas os números mostram que os eleitores andam hoje na direção contrária. O desempenho de seu partido e de seus candidatos nas eleições municipais do ano que vem permitirá enxergar melhor se a estratégia de confronto e campanha permanente que adotou no poder terá chance de êxito nas urnas.

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