Bolsonaro e Witzel tentam fazer de sequestro de ônibus apoteose dos snipers

Na ‘guerra do Rio’, na guerra ideológica em curso no Brasil, a verdade é a primeira a levar ‘na cabecinha’

Bolsonaro e Witzel tentam fazer de sequestro de ônibus apoteose dos snipers
Bolsonaro e Witzel usam caso para justificar política de abate (Foto: Reprodução/TV Globo)

De cair o queixo, mesmo de quem é para lá de escolado nas manhas e artimanhas dos poderosos para reforçar seu poder punitivo pela via do manejo via de regra desonesto da insegurança que grassa no sentimento social. Mesmo, portanto, de Zaffaroni, sujeito internacionalmente reconhecido em sua área, o Direito Penal. No Brasil, no “novo Brasil”, o de Jair Bolsonaro e Wilson Witzel, Zaffaroni seria imediatamente reconhecido também, mas como “defensor de bandido”.

Após um sniper da polícia fluminense atingir mortalmente o sequestrador do ônibus 2520, da viação Galo Branco, no meio da ponte Rio-Niterói, Bolsonaro e Witzel não tardaram para comparar, grosseiramente, o abate de um homem que ameaçava tacar fogo em dezenas de pessoas, ação policial aparentemente necessária e bem sucedida, com o dramático abate de gente pobre, pela polícia, no Rio de Janeiro.

“Não tem que ter pena”, disse Bolsonaro na manhã desta terça, referindo-se ao uso de snipers à moda Witzel, ou seja, para “mirar a cabecinha e pimba”, secretamente e para execuções sumárias por parte do Estado, as que têm sido levadas a cabo no Rio, naturalmente não em coberturas movidas a pó da Zona Sul – as que sempre foram levadas a cabo no Rio, mas nunca com tanto orgulho e desfaçatez.

Witzel, com os pés na ponte Rio-Niterói e olhos no Palácio do Planalto, disse que o desfecho do sequestro da ponte era um exemplo de que a polícia do Rio mata criminosos, não inocentes. Um dia antes do sequestro do ônibus da viação Galo Branco, na segunda-feira, 19, Witzel atirou no colo dos “defensores dos direitos humanos”, “defensores de bandidos”, os cadáveres dos vários jovens sem qualquer ligação com atividade criminosa mortos pela polícia fluminense nas últimas semanas. Ao todo, a polícia do Rio matou sub-notificadas 881 pessoas nos primeiros seis meses de 2019.

‘Se tem operação, não fica no ponto de ônibus’

Também um dia antes do sequestro, Witzel havia dito assim quando foi questionado sobre os riscos para a população mais pobre da sua política de promover, em vez de evitar, tiroteios em áreas periféricas do Rio de enorme densidade populacional: ‘se tem operação, não fica no ponto de ônibus’.

“Os mitos mais grosseiros – diz Zaffaroni em seu livro ‘O inimigo no direito penal’ – se impõem porque existe sempre uma relação inversa entre o grau de irracionalidade e brutalidade do poder repressivo e o nível de elaboração do discurso que busca legitimá-lo, e também porque se adequam melhor às demandas publicitárias”.

Em bom português: os embustes mais bizarros, são esses os que mais têm chances de colar, porque a ignorância é rainha e porque soam bem na TV.

Na “guerra do Rio”, na guerra ideológica em curso no Brasil, especialmente numa e noutra, a verdade é a primeira a levar “na cabecinha”. O “comunista” Zaffaroni lacra que, se toda identificação do inimigo se baseia em um mito, então conclui-se que “não existem verdadeiras guerras religiosas, mas sim que todas as guerras são míticas, ou melhor, que todas as guerras são idólatras”.

Na ponte Rio-Niterói, Witzel disse à imprensa que havia acabado de se reunir com os reféns do ônibus 2520 para uma oração do Pai Nosso: “oramos pelo criminoso que morreu”.

Hugo Souza- O&N

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