Um dos dois está mentindo: o hacker Walter Delgatti ou a matéria da revista Veja.

A Veja circula com uma suposta matéria de um suposto hacker

Hamilton Ferrari, Thaís Moura e Renato Souza
Correio Braziliense

Em um relatório enviado à Justiça Federal, a Polícia Federal afirmou que está prestes a acessar informações importantes para as investigações. Entre elas, estariam dados de celulares dos suspeitos. O aparelho usado pelos acusados, apesar de comum, dificulta o acesso às mensagens, o que demanda mais tempo de atividade para que os peritos consigam extrair o conteúdo.

O hacker Walter Delgatti Neto, um dos quatro detidos por invasão de celulares de autoridades da República, afirmou à Polícia Federal que obteve o contato do jornalista Glenn Greenwald, do The Intercept Brasil, por meio da ex-deputada Manuela D’Ávilla (PCdoB), candidata a vice-presidente da República na chapa do petista Fernando Haddad nas eleições de outubro.

CONTRADIÇÃO – A revista Veja   que está nas bancas publica o que seria um diálogo entre Greenwald e a fonte anônima que repassou as mensagens de celulares a ele. Pelo teor da conversa, a tal fonte não teria sido Delgatti, porque a Veja informa que fonte disse a Greenwald que não tinha invadido o celular de ex-juiz Sérgio Moro.

Mas no depoimento à Polícia Federal, o hacker Delgatti disse que criou conta no Telegram vinculada ao número de Moro. Portanto, um dos dois está mentindo – Delgatti ou a Veja.

E há outras evidentes contradições, como a forma de acesso de Delgatti à ex-deputada Manuela d’Ávila.

MANDOU ÁUDIO – O hacker afirmou no depoimento, divulgado pela GloboNews, que ligou para Manuela D’Ávila pedindo o contato de Greenwald, mas que, diante da descrença dela em relação ao conteúdo vazado, enviou um áudio de uma conversa entre dois procuradores do Paraná para comprovar que falava a verdade.

O acusado disse que se comunicou com o jornalista pelo aplicativo Telegram e que não pediu nem recebeu nenhum tipo de pagamento em troca dos dados que forneceu. Ele também contou que não repassou nenhum tipo de informação pessoal dele ao americano.

Em nota, Manuella D’Ávila confirmou que passou o contato de Greenwald, mas contradisse algumas declarações do hacker. A ex-deputada afirmou que foi comunicada pelo Telegram, em maio, de que o aparelho dela havia sido invadido no Estado da Virginia, nos Estados Unidos.

MENSAGEM – Ela recebeu uma mensagem, e não uma ligação, como disse Walter, de uma pessoa que se identificou como alguém inserido na lista de contatos dela.

A pessoa teria informado que tinha obtido provas de graves atos ilícitos praticados por autoridades brasileiras. “Sem se identificar, mas dizendo morar no exterior, afirmou que queria divulgar o material por ele coletado para o bem do país, sem falar ou insinuar que pretendia receber pagamento ou vantagem de qualquer natureza”, disse Manuela na nota.

“Pela invasão do meu celular e pelas mensagens enviadas, imaginei que se tratasse de alguma armadilha montada por meus adversários políticos. Por isso, apesar de ser jornalista e estar apta a produzir matérias com sigilo de fonte, repassei ao invasor do meu celular o contato do reconhecido e renomado jornalista investigativo Glenn Greenwald”, emendou.

À DISPOSIÇÃO – A ex-deputada disse que desconhece, portanto, a identidade de quem invadiu o celular dela. “Desde já, me coloco à inteira disposição para auxiliar no esclarecimento dos fatos em apuração”, destacou.

A ex-parlamentar ainda declarou que vai orientar os advogados a procederem a “imediata entrega das cópias das mensagens” à Polícia Federal. “Estou à disposição para prestar quaisquer esclarecimentos sobre o ocorrido e para apresentar meu aparelho celular à exame pericial”, frisou.

SEM  EDIÇÃO? – Procuradores da Lava-Jato e Sérgio Moro lançam dúvidas sobre a integridade das mensagens que são publicadas desde 9 de junho pelo Intercept. No entanto, o hacker negou que tenha sido realizadas edições do material.

“(Walter Delgatti) disse que pode afirmar que não realizou qualquer edição dos conteúdos das contas de Telegram das quais teve acesso. Acredita não ser possível fazer a edição das mensagens do Telegram em razão do formato utilizado pelo aplicativo”, menciona um dos trechos do depoimento.

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