‘Talvez pegue uma cana aqui no Brasil’, diz Bolsonaro sobre Glenn Greenwald

Bolsonaro diz que Glenn Greenwald não se encaixa na portaria 666, por ser ‘malandro’ e ter se casado com brasileiro, mas talvez ‘pegue uma cana’ no Brasil

‘Talvez pegue uma cana aqui no Brasil’, diz Bolsonaro sobre Glenn Greenwald
Portaria 666 foi assinada por Moro no último dia 25 (Foto: Marcos Corrêa/PR)

O presidente Jair Bolsonaro causou polêmica neste sábado, 27, ao afirmar que o jornalista Glenn Greenwald “talvez pegue uma cana aqui no Brasil”.

A declaração foi dada a jornalistas quando o presidente participava de um evento no Rio de Janeiro. Na ocasião, Bolsonaro comentava a portaria 666, assinada no último dia 25, pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, em meio às polêmicas mensagens vazadas, divulgadas pelo site Intercept, que apontam conduta irregular de Moro durante sua atuação como juiz responsável pelos processos da operação Lava Jato.

Segundo Bolsonaro, Greenwald não se encaixa na portaria, porque é “malandro” e casou-se com um brasileiro e adotou dois filhos.

“Ele [Glenn] não se encaixa na portaria. Até porque ele é casado com outro homem e tem meninos adotados no Brasil. Malandro, malandro, para evitar um problema desse, casa com outro malandro e adota criança no Brasil. Esse é o problema que nós temos. Ele não vai embora, pode ficar tranquilo. Talvez pegue uma cana aqui no Brasil, não vai pegar lá fora não”, disse o presidente.

O presidente prosseguiu, defendendo a portaria publicada por Moro. “Pela lei, se chegar aqui um navio com 5.000 pessoas de qualquer lugar do mundo, já sai com hospedagem. Não é assim! Não sou xenófobo, mas na minha casa entra quem eu quero, e a minha casa no momento é o Brasil. Se um cara for pego por suspeita de tráfico, sequestro, esses crimes brabos, é suspeito apenas, sai daqui! Já tem bandido demais no Brasil! Esse é o sentimento dele [Moro] e o meu também, parabéns ao Moro”, disse o presidente.

Glenn Greenwald vive no Brasil há mais de 14 anos. Ele chegou ao país em 2015 e vive em situação regular. Ele é casado com o deputado brasileiro David Miranda (Psol-RJ), com quem tem dois filhos adotivos. O jornalista respondeu à declaração em uma série de postagem no Twitter.

“Ao contrário dos desejos de Bolsonaro, ele não é (ainda) um ditador. Ele não tem o poder de ordenar pessoas presas. Ainda existem tribunais em funcionamento. Para prender alguém, tem que apresentar provas para um tribunal que eles cometeram um crime. Essa evidência não existe. Bolsonaro – sendo ele – tb implicou que eu me casei com @davidmirandario e adotei 2 filhos para evitar a lei de deportação. Ele evidentemente acha que eu tenho o poder de prever o futuro: David e eu nos casamos há 14 anos quando eu era advogada, antes de me tornar jornalista. A teoria dele é insana: casei com David 14 anos atrás pq eu previa que precisaria disso no futuro. E sugerir que alguém adotaria – e cuidar de – 2 filhos para manipular a lei é nojenta. O Brasil tem 47.000 crianças em abrigos. A adoção é linda e deve ser encorajada, não zombado. É verdade que o governo não tem o poder de me deportar. Mas eu tenho o poder de sair o Brasil voluntariamente – e tinha esse poder o tempo todo. Mas não fiz e não vou, apesar dessas ameaças. Pq? Pq sei que não têm nada contra mim. Vou defender a democracia do país dos meus filhos”, escreveu Greenwald.

Não foi a primeira polêmica envolvendo uma coletiva de Bolsonaro nos últimos dias. Na última sexta-feira, 26, o presidente gerou polêmica ao encerrar abruptamente uma entrevista, após ser questionado sobre o uso de um helicóptero oficial para assuntos pessoais. Recentemente, veio à tona que, em 25 de maio, um helicóptero da Força Aérea Brasileira (FAB) foi usado para transportar parentes do presidente até o casamento de Eduardo Bolsonaro.

O caso veio à tona após o site G1 divulgar um vídeo postado nas redes sociais por um sobrinho de Bolsonaro, no qual parentes do presidente aparecem trajando roupas de festa, seguindo para a cerimônia. Após a divulgação no site G1, o vídeo foi apagado. Ao ser questionado sobre o caso, Bolsonaro se irritou com a jornalista.

“Peraí… Dá licença estou num evento militar, tem familiares meus aqui, eu prefiro vê-los do que responder a uma pergunta idiota pra você. Tá respondido? Passa para outra. Outra pergunta por favor. Vamos falar de Brasil e de Goiás. Já sei qual é tua pergunta”, disse Bolsonaro o presidente.

Em seguida, outro repórter que participava da coletiva insistiu na pergunta, e Bolsonaro novamente se esquivou. “Outra pergunta. Mais nada? Obrigado”, disse o presidente, encerrando a coletiva. O vídeo da coletiva se espalhou pelas redes sociais, despertando críticas e apoio ao presidente. Confira abaixo.

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