Polícia Federal está procurando mais seis envolvidos no caso dos hackers de celulares

Por Jailton de Carvalho, Leandro Prazeres e Aguirre Talento

Apesar de o principal suspeito dos ataques hacker preso, Walter Delgatti Neto, ter admitido em depoimento ser autor de invasões à contas de aplicativos de mensagens e telefones de autoridades, a Polícia Federal está longe de encerrar as investigações sobre o caso. A PF entende que ainda é necessário aguardar os laudos periciais e checar alguns dados para concluir a apuração.

Com histórico de abandono familiar e uso de remédios contra a depressão, Delgatti teria, segundo amigos, propensão a distorcer parte da realidade e, com isso, projetar uma imagem exageradamente positiva dele mesmo. Dois laudos que estão sendo preparados pelo Instituto Nacional de Criminalística são considerados essenciais para esclarecer as circunstâncias das invasões de aplicativos.

MIL ALVOS? – A estimativa dos investigadores, após obter dados de sistemas de telefonia, é que pelo menos mil pessoas foram alvos dos ataques de hackers. Dois dias após a prisão dos suspeitos, a investigação apontou que a abrangência dos ataques cibernéticos chegou aos telefones do presidente Jair Bolsonaro, aos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Otávio Noronha, além da procuradora-geral da República, Raquel Dodge. Eles foram informados pelo ministro da Justiça, Sergio Moro, que estavam entre os alvos.

Além das perguntas  já respondidas pela Polícia Federal nos últimos três dias,  restam questões ainda não solucionadas que indicam o que ainda falta ser descoberto ou divulgado, uma vez que o procedimento corre sob sigilo estabelecido judicialmente.

MANDANTES – A PF ainda não informou se há informações concretas sobre se houve mandantes das invasões. Além dos R$ 100 mil apreendidos pela PF na Operação Spoofing, o que se sabe sobre as finanças dos suspeitos, até agora, é que Gustavo Henrique movimentou R$ 424 mil, entre abril e junho do ano passado, e Suelen, por sua vez, movimentou R$ 203 mil entre março e maio deste ano. Para os delegados da PF, há incompatibilidade entre a movimentação financeira e as rendas declaradas dos dois.

Na decisão do juiz Vallisney de Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília, além de autorizar as prisões temporárias, o magistrado afirma que a incompatibilidade entre as movimentações financeiras e a renda mensal dos suspeitos torna necessário rastrear os recursos recebidos e movimentados por eles. Além dos sigilos bancários, o magistrado ainda determinou a quebra do sigilos telemático dos suspeitos.

Ainda não se sabe o que foi encontrado de indícios e provas nos e-mail e arquivos dos presos: Gustavo Henrique Elias Santos, Suelen Priscila de Oliveira, Danilo Cristiano Marques e Walter Delgatti Neto.

MAIS SEIS – Além dos quatro suspeitos presos, há outras seis pessoas possivelmente envolvidas no caso.  A PF apresentou ao juiz Vallisney de Oliveira um relatório de diligência no qual listou os e-mails destas seis pessoas, que estavam vinculados às contas dos usuários do sistema BRVOZ das quais partiram os ataques.

Com base nesse documento, a PF solicitou o afastamento do sigilo telemático desses e-mails, para acessar seu conteúdo e apurar se os outros alvos também estão envolvidos no caso. O magistrado autorizou a medida e determinou a quebra do sigilo telemático desses e-mails.

O único dos seis nomes conhecido até agora é o de Anderson José da Silva, dono de uma das contas da qual partiram os ataques. Apesar de ser o dono da conta, porém, até agora a PF não identificou ter sido Anderson autor de tentativas de invasão — apenas que sua conta teria sido usada por terceiros para esta finalidade.

CONFISSÃO ÚNICA – Embora Walter Delgatti Neto tenha confessado que invadiu a conta de Moro no Telegram, ainda não há informações sobre como teriam atuado os outros quatro suspeitos. Gustavo Henrique Elias dos Santos  diz que é inocente,  assim como Suelen Priscila de Oliveira. O advogado dos dois afirma que Gustavo atua como promotor de eventos e não tem conhecimento de internet e de computação.

Não há informações sobre as suspeitas da PF sobre Danilo Cristiano Marques.

O Globo

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