50 anos de silêncio

Dizer que Billie Holiday foi só uma cantora de jazz é como dizer que os Beatles foram só uma banda de rock

50 anos de silêncio
Billie Holiday morreu em 1959. No dia de sua morte, ela tinha US$ 0,70 no banco e US$ 7 na bolsa. O resto o vício em heroína havia consumido (Foto: Wikimedia)

Billie Holiday morreu em 1959. No dia de sua morte, ela tinha US$ 0,70 no banco e US$ 7 na bolsa. O resto o vício em heroína havia consumido. O que sobreviveu foi a voz que cantou com uma beleza sem paralelo na história do jazz. Sua música, segundo o jornalista Roberto Soneto, transcendeu o gênero. “Dizer que Billie Holiday foi só uma cantora de jazz é como dizer que os Beatles foram só uma banda de rock”, afirmou.

A vida da cantora é um retalho de histórias não confirmadas e, muitas vezes, inacreditáveis. A autobiografia Lady Sings the Blues, escrita por um ghostwriter, é conhecida por conter inúmeros erros, e a biografia escrita por sua secretária não é muito melhor, segundo Soneto. Sabe-se, no entanto, que foi uma vida com imensas tragédias, que começaram na infância. Ainda criança, sofreu abusos sexuais. Viveu na pobreza e trabalhou como prostituta, até, nos anos 1930, começar a cantar em bares de Nova York.

O abuso de álcool e drogas que ela experimentou durante toda a vida acabaram por, aos poucos, prejudicar sua performance. “Todas as características vocais de Billie Holiday se perderam por conta dos abusos. Mas o mais importante é que a voz era como uma pintura. Podia perder o brilho, ficar velha e esgarçada, mas ainda retinha sua beleza”, disse Soneto.

Esta voz nunca foi tão poderosa quanto na música Strange Fruit (veja o vídeo abaixo). Ao contrário do que se acredita, a música não foi escrita pela cantora, mas pelo poeta Lewis Allan, também conhecido como Abel Meropool. A música é um protesto contra o racismo no sul dos Estados Unidos. O estranho fruto que dá nome à música se refere aos corpos dos negros linchados e depois dependurados pelo pescoço em árvores.

Billie Holiday tinha o hábito de terminar seus shows com a música. O teor político da canção causou problemas para a cantora. Ela teve que lançar a música por um selo especial, já que sua produtora se recusou a gravar. Em 1999, Strange Fruit foi eleita pela revista Time como a canção do século.

Outras inovações de Billie Holiday foram menos políticas, mas ainda polêmicas. Ela foi a primeira cantora negra a ser acompanhada por violinos. A cantora lutou por esse direito na música Lover Man, que nunca havia tido acompanhamento de violinos. A exigência não foi tanto racial quanto musical: a canção realmente fica melhor com o instrumento.

Durante sua carreira, a cantora participou de vários filmes, a grande parte deles sofrível. Nova Orleans (1947), um filme em que Billie Holiday contracena com o jazzista Louis Armstrong, é profundamente um bom exemplo. Mas aturar atuações fracas e roteiro ruim é um pequeno preço a se pagar para ver e ouvir um pouco do melhor do que o jazz pode oferecer.

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