Propina na Olimpíada traz esperança de punição ao ‘Rei Arthur’, foragido nos EUA

Arthur Soares de Menezes, o 'Rei Arthur' em Miami Foto: Reprodução

Cúmplice de Cabral, o Rei Arthur se deu bem nos Estados Unidos

Bernardo Mello
O Globo

Desejo antigo do Ministério Público Federal (MPF) , impedido pelo governo dos EUA, a tentativa de extradição do empresário Arthur César de Menezes Soares Filho , mais conhecido como “Rei Arthur”, entrou no radar de autoridades da França. Acusado de ter financiado um esquema de vantagens ilícitas que irrigou a gestão de Sérgio Cabral, Arthur Soares foi citado em depoimento do ex-governador ao juiz Marcelo Bretas, no último dia 4, como responsável pelo pagamento de propinas para que o Rio fosse escolhido sede dos Jogos Olímpicos de 2016. O acerto teria ocorrido em Paris, em setembro de 2009, dias antes do evento que ficou conhecido como “farra dos guardanapos”.

Arthur, que mora na ilha de Key Biscayne, em Miami, é considerado foragido pelo MPF. Desde a deflagração da Operação Unfairplay, em setembro de 2017, para investigar a compra de votos na candidatura olímpica do Rio, o Brasil enviou ao governo dos EUA pedidos de bloqueio de bens, quebra de sigilo telefônico e bancário e de extradição do empresário, todos ignorados.

ACORDO VIGENTE – Nos bastidores, há o entendimento de que, embora tenha negado os pedidos do Brasil contra Arthur, o governo americano seria mais solícito a uma abordagem francesa. EUA e França têm acordo de extradição vigente.

“Seria ótimo para nós se acontecesse. Nosso pedido de cooperação internacional com os EUA não prosperou. Temos o interesse de que ele (Arthur) seja punido por eventuais crimes que tenha cometido’ — disse Fabiana Schneider, procuradora da Lava-Jato no Rio.

Membros da Lava-Jato têm atuado em parceria com procuradores franceses nos últimos três anos. Jean-Yves Lourgouilloux, um dos integrantes do Parquet National Financier (PNF) francês que veio ao Brasil no início da Operação Unfairplay, não confirma qualquer medida francesa em relação ao Rei Arthur.  O Globo apurou, porém, que um possível pedido de extradição já começou a ser estudado na França.

SENEGALÊS – Lourgouilloux ficou responsável pelas investigações contra Lamine Diack, senegalês que reside na França, acusado de receber US$ 2 milhões de Arthur Soares, em dois pagamentos, para votar no Rio na eleição da sede olímpica. A negociação teria sido intermediada em Paris por Leonardo Gryner, braço-direito do ex-presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB) Carlos Arthur Nuzman. Diack está impedido judicialmente de deixar a França.

O próprio Arthur relatou, em proposta de delação premiada entregue ao MPF no início do ano e obtida pelo Globo, que foi procurado por Gryner no hotel Fouquet Barriere, em setembro de 2009, e orientado a fazer os pagamentos. Arthur teria feito a transferência na mesma hora, em documentos enviados por fax. Segundo ele, Gryner disse que o dinheiro seria enviado a um lobista.

JURISDIÇÃO — “O fato de ter ocorrido um encontro em Paris confirmaria a existência de jurisdição francesa sobre esse caso. As pessoas que participaram desse encontro poderiam ser processadas de acordo com as leis da França” — explicou Lourgouilloux.

Dono do grupo Facility, Arthur Soares era um dos principais prestadores de serviços terceirizados no governo Cabral, em áreas como limpeza, segurança, alimentação e saúde.Segundo investigação do Ministério Público do Rio (MP-RJ), a Facility participava em licitações fraudadas e depois repassava valores dos contratos a autoridades do Legislativo e do Executivo fluminense. A influência do empresário, cujos contratos com o governo do Rio chegaram a totalizar R$ 3 bilhões, deu origem ao apelido de “Rei Arthur”.

Procurada pelo Globo, a defesa de Arthur Soares não se manifestou.

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