Um homem da Paz

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Por Jose Maria Pereira Gomes

No fim da noite de ontem, 9 de julho, morreu Rostand Paraíso, o decano da Cardiologia em Pernambuco, um homem moldado para servir e trabalhar intensamente na melhoria da nossa sociedade. Foi filho do professor Othon Paraíso, de quem recebeu educação primorosa, moldando seu perfil por toda vida.

Formou-se em Medicina no Recife, em 1953, ainda na praça do Derby, e poucos anos após a graduação, recebeu bolsa de estudos da Fundação Rockfeller, indo para a Universidade Tulane em Nova Orleans. Lá, marcou-lhe ver a sociedade sulista segregada, encontrado enfermarias separadas para pacientes brancos e pretos.

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Rostand dedicou-se à Cardiologia, e muito especialmente ao seu ensino. Foi professor assistente na Segunda Cadeira de Clínica Médica, Enfermaria Santo Anselmo do Hospital Pedro II. Lá, as suas aulas eram das mais concorridas. Também dava aulas na Faculdade de Ciências Médicas. Assim, fica impossível determinar o número de cardiologistas que ele ajudou a formar, tal a quantidade de ex-alunos seus espalhados em quase todo Brasil.

Teve como aliados ao seu extenso conhecimento médico, a candura, a delicadeza e o recato, que juntos fizeram dele um homem da Paz. De enorme dedicação aos pacientes, tinha sua presença sempre festejada pelos familiares, pelos colegas e pela enfermagem.

Foi também excelente desportista, destacando-se no voleibol. Mas para sorte da equipe adversária não teve o mesmo talento para o futebol, esporte que praticou sem nenhum brilho.

Era essencialmente um adepto do convívio, coisa que praticava com largueza e assim foi presidente do _Country Club_ por mais de um mandato.

Seguindo a carreira médica, Rostand teve ativa participação no progresso da Cardiologia em Pernambuco, pois que foi fundador do Prontocor, nos anos sessenta, que funcionara numa casa ainda existente na Rua das Crioulas. Nessa época se desenvolveu em Recife o atendimento emergencial aos pacientes com Infarto do Miocárdio. Na década seguinte foi um entusiasta da cirurgia coronária com Pontes de Safena, associando-se ao Dr. Carlos Moraes na fundação do Instituto do Coração de Pernambuco, em funcionamento no Hospital Português.

Muito depois, dedicou-se à Literatura, firmando-se como escritor consagrado com mais de quinze livros. Com eles nós fomos presenteados com suas memórias que reteve do Recife dos anos quarenta e cinquenta. Um escritor cuidadoso, na forma e no conteúdo. Pesquisava arquivos de jornais, tomava depoimento de antigos próceres. Seus livros são perenes em acordo com a máxima de que _A vida é curta, mas a Arte, longa_.

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Com seus livros ficamos sabendo do impacto que a segunda guerra causou no Recife com a presença dos soldados americano e a influência que os imigrantes ingleses tiveram no Recife na primeira metade de século vinte. Por essa atividade, ganhou cadeira na Academia Pernambucana de Letras, onde também foi presidente.

Rostand trabalhou normalmente até ontem pela manhã. À tarde, após um carteado com amigos, foi internado no Hospital Português. Poucas horas depois, sem alarde, silencioso e discreto como sempre, ele nos deixou.

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