Casos aumentam e feminicídios viram emergência nacional na França

‘Le Monde’ publica especial; mulheres protestaram nas ruas de Paris contra crescentes números de assassinatos cometidos por maridos ou ex-companheiros

Ativistas protestam, em Paris, contra o feminicídio Foto: REGIS DUVIGNAU / REUTERS
Ativistas protestam, em Paris, contra o feminicídio Foto: REGIS DUVIGNAU / REUTERS

‘É um massacre’

Na França, em 21 de junho, Nicole Belloubet, Ministra da Justiça, solicitou uma investigação pela Inspetoria Geral de Justiça para examinar registros históricos em busca de sinais de alerta que poderiam ter sido negligenciados e identificar erros e falhas ocorridos.

De acordo com dados do Ministério do Interior, 130 mulheres foram investigadas em 2017 por assassinato pelo marido ou companheiro. Em 2016, foram 123. “É um massacre”, disse Julie Gayet, atriz francesa e parceira do ex-presidente francês François Hollande, no protesto.

“Precisamos aumentar a conscientização sobre o que está acontecendo hoje, o que isso significa para a evolução da sociedade. Foi dado um passo para trás e ainda mais mulheres estão morrendo hoje.”, disse.

No último fim de semana, o tema chegou às paginas do “Le Monde”, um dos jornais mais importantes da Europa, que deu manchete em sua edição impressa e publicou extensa reportagem dominical sobre o tema. Em editorial, o periódico francês denunciou que a violência contra as mulheres se banalizou no país, “como se a sociedade admitisse sua impotência”.

‘Parem com os feminicídios

Gritando “Chega” e carregando cartazes dizendo “Parem com os feminicídios” ou “O planeta precisa de mulheres vivas”, uma multidão se reuniu na Praça da República, em Paris. O mais recente caso registrado de mulher assassinada pelo companheiro na França foi vítima de uma martelada, no final de junho, e, uma locaidade perto de Lyon, enquanto suas duas filhas dormiam.

Em mensagem dirigida ao presidente Emmanuel Marcon as manifestantes pediram “o fim do massacre” feminino e ação enérgica e urgente contra a violência doméstica. Também pedem para o governo tomar medidas como pedir a guarda de crianças de suspeitos de matar a parceira já durante as investigações, e de criar um programa voltado para abertura de abrigos para vítimas de violência doméstica.

‘Emergência humanitária’

Como medida de proteção, o Ministério da Justiça pretende apresentar ao Legislativo em outubro projeto de lei exigindo o uso da tornozeleira eletrônica antes mesmo da condenação de homens considerados perigosos, medida já tomada na Espanha.

A reportagem do “Le Monde” diz que o aumento dos casos de feminicídio na FRança se tornou uma questão política. O senador Laurence Rossignol, ex-ministro das Famílias, Crianças e Direitos das Mulheres do governo socialista de François Hollande, afirmou na quinta-feira, no Senado: “Estamos em uma situação de emergência humanitária. O governo deve ir além de denunciar casos no Twitter, que não salva ninguém. Esta parece ser a famosa ‘grande causa nacional’ cujos resultados não são claramente vistos”.

Um relatório de 2018, assinado por várias associações feministas e pelo Conselho Econômico, Social e Ambiental da França, intitulado “Onde está o dinheiro para combater a violência contra as mulheres?”, já informava que 506 milhões de euros seriam necessários a cada ano para apoiar as mulheres vítimas de violência doméstica, mas apenas 79 milhões estão atualmente disponíveis no  orçamento federal. A Espanha, frequentemente citada como bom exemplo, gasta 200 milhões de euros todos os anos na proteção de mulheres vítimas.

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