Orgulho persa do Irã pede respeito diante de ameaças dos Estados Unidos

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Iranianas participam das manifestações contra os EUA e Israel

Guga Chacra
O Globo

Os iranianos são os persas. Integram uma civilização milenar. Têm orgulho do seu passado de vitórias e derrotas. Não interessa se defendem ou condenam o regime no poder em Teerã há 40 anos. Estas quatro décadas correspondem a uma fração na História da Pérsia. Os Estados Unidos podem ser os inimigos de hoje. No passado, em diferentes séculos, foram os egípcios, gregos, romanos e otomanos. O Irã demanda respeito.

Quando escrevo Irã, não falo apenas do aiatolá Khamanei, das Guardas Revolucionárias, do Conselho dos Guardiães e do presidente Rouhani. Falo de todos os iranianos que vivem no país ou no exterior.

ENORME ORGULHO – Ao longo destes meus 14 anos em Nova York conheci muitas pessoas de origem iraniana. Todos demonstram enorme orgulho ao falar de seu país e dizer que são “persas”. Muitos se opõem ao regime. Alguns são judeus. A maioria é muçulmana xiita. Há até cristãos armênios. São poucas as diásporas tão orgulhosas como a do Irã. Integram a elite de Los Angeles. Iranianos ocupam altos cargos executivos, como o de CEO do Uber, e também há acadêmicos, médicos e arquitetos.

Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, assim como outros políticos americanos, incluindo Hillary Clinton, parecem não entender a dimensão da História iraniana. “Se o Irã quiser guerrear, será o fim do Irã. Nunca ameacem os EUA de novo”, escreveu Trump no Twitter dias atrás.

Hillary Clinton, nas primárias democratas de 2008 contra Barack Obama, afirmou que “aniquilaria o Irã” se o regime de Teerã atacasse Israel.

ERRO DE COLOCAÇÃO – Quando afirmam “Irã”, o presidente americano e a ex-secretária de Estado talvez estejam se referindo ao regime. Mas, aos ouvidos dos iranianos, soa como uma ameaça a toda nação persa, independentemente de a pessoa concordar ou não com os atuais governantes.

A resposta de Javad Zarif, ministro das Relações Exteriores do Irã, resume este sentimento iraniano. Segundo o chanceler, “Trump espera alcançar o que Alexandre (O Grande), Genghis (Khan) e outros agressores fracassaram. Os iranianos se mantiveram de pé por milênios enquanto seus agressores desapareceram”.

A VOLTA DO XÁ – Os EUA foram diretamente responsáveis pela interrupção de um experimento democrático no Irã no início dos anos 1950 quando, por meio da CIA, derrubaram o premier Mohammad Mosaddegh. Ele não era religioso e tampouco tinha qualquer ligação com os aiatolás. Apenas não atendia aos interesses dos americanos nos tempos da Guerra Fria em um país rico em petróleo.

Em seu lugar, Washington optou por apoiar a sanguinária ditadura do Xá Reza Pahlevi. Não se sabe qual teria sido o destino do Irã se Mosaddegh tivesse seguido no poder. Sabemos apenas que o sentimento anti-EUA despertou e, em 1979, um regime radical religioso chegou ao poder e tornou o país um dos maiores inimigos dos americanos.

ERRO DE TRUMP – Barack Obama e seu secretário de Estado John Kerry entenderam que os EUA erraram no passado e os iranianos deveriam ser tratados com respeito. Desta forma, a ala mais moderada e reformista do regime ganharia força e buscaria se aproximar de Washington.

Esta estratégia teve enorme sucesso até Trump destruí-la. A única certeza é que o Irã, ou a Pérsia, seguirá de pé, com ou sem o atual regime.

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