Contador envolve irmão de ministro do Turismo no esquema das laranjas eleitorais

O ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, durante evento no Palácio do Planalto, em Brasília

A cada dia aumentam as provas contra o ministro do Turismo

Camila Mattoso e Ranier Bragon
Folha

Um contador da campanha de Marcelo Álvaro Antônio (Turismo) afirma que, a pedido de um irmão do ministro, cuidou da prestação de contas das quatro candidatas do PSL de Minas Gerais consideradas laranjas. Danilo Jomaso diz que fez a contabilidade de apenas quatro mulheres, em Minas, todas atualmente investigadas por terem sido laranjas na eleição de 2018. Jomaso diz que jamais conheceu as candidatas e que recebeu todas as notas das mãos de um dirigente do PSL.

Ricardo Teixeira, o irmão de Álvaro Antônio, não aparece como dirigente da legenda ou como colaborador de campanha. A Folha apurou que ele se apresentava na época como irmão e auxiliar do ministro.

TUDO MENTIRA – O contador prestou depoimento na semana passada, em investigação da Polícia Federal e do Ministério Público, e seu relato agora faz parte do inquérito.

A PF afirmou no início do mês que já tem provas de que as candidatas mentiram sobre os gastos e que as empresas supostamente contratadas, como gráficas e consultorias, nunca realizaram os serviços declarados ou os fizeram para outros candidatos.

O contador declara não ter como saber se os trabalhos foram realizados, porque não havia nenhuma irregularidade nas contas, do ponto de vista formal.

A DENÚNCIA – As investigações do Ministério Público e da polícia começaram em fevereiro, após a Folha revelar o caso. Em reportagem do dia 4 de fevereiro, o jornal mostrou que Álvaro Antônio, reeleito como deputado mais votado em Minas, patrocinou um esquema de candidaturas de fachada que desviou dinheiro para empresas ligadas ao seu gabinete e a seus assessores.

As quatro mulheres envolvidas no episódio negam que suas candidaturas tenham sido de fachada. Depois, pelo menos três outras candidatas apresentaram denúncias contra o ministro e o PSL de Minas. Elas disseram que receberam propostas para desviar recursos públicos.

O depoimento do contador envolve diretamente a família do ministro no episódio e vincula a ela, pela primeira vez, a contabilidade das laranjas.

CUIDADO ESPECIAL – O contador Jomaso disse que Ricardo Teixeira pediu a ele que tivesse um cuidado especial com as quatro, afirmando que a necessidade se dava por elas terem recebido verba pública.

Ainda de acordo com o contador, o irmão de Álvaro Antônio solicitou que ele fizesse a documentação, mas que outra pessoa, Gustavo Nascimento, assinaria –o que não ocorreu. Em entrevista à Folha no mês passado, Nascimento disse que não assinou as prestações de contas delas e que foi destituído após problemas internos.

No final, os ofícios foram entregues à Justiça Eleitoral sem assinaturas de contador. Mais de cinco meses após as eleições, e depois de o escândalo vir à tona, as candidatas apresentaram retificação de suas prestações de contas, com assinatura de um novo contador.

DEPUTADA ACUSA – Nesta segunda-feira (dia 13), a deputada federal Alê Silva (PSL-MG) foi ouvida. Ela reafirmou o que disse em entrevista à Folha, de que sofreu ameaças de Álvaro Antônio depois que denunciou o laranjal. O ministro do Turismo tem negado qualquer irregularidade na campanha e tem dito que cumpriu a lei. Ele admite tê-las escolhido para disputar a eleição e também ter determinado o repasse de vultosas quantias de recursos públicos a elas.

Jair Bolsonaro tem afirmado que espera as investigações da PF para decidir o que fazer. Álvaro Antônio era presidente do PSL em Minas e tinha o poder de decidir quais candidaturas seriam lançadas.

As quatro candidatas laranjas receberam R$ 279 mil da verba pública de campanha da legenda, ficando entre as 20 que mais receberam dinheiro do partido no país inteiro.

FAVORECIMENTO – Desse montante, parte foi destinada a quatro empresas que são de assessores, parentes ou sócios de assessores do hoje ministro de Bolsonaro.

Na semana passada, a Folha mostrou que as gráficas e empresas contratadas não tinham nenhuma comprovação de serviços realizados. Nas buscas realizadas pela PF, não foram encontradas ordens de serviço, recibos ou outros registros físicos de trabalhos para as quatro mulheres.

Representantes das empresas deram justificativas diversas. Uma delas disse, por exemplo, que costumava anotar as solicitações em um bloquinho, mas que o papel foi para o lixo. Outra afirmou que só guardava registros de pedidos por seis meses — e que o prazo já tinha passado.

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