Exonerado por Bolsonaro, Alfredo Sirkis diz que ‘Brasil precisa de uma Lava-Jato do desmatamento’

Um dos mais conhecidos ambientalistas do Brasil, ele deixa o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, órgão central para políticas do clima

O ambientalista Alfredo Sirkis, exonerado do Forum Brasileiro de Mudanças Climaticas Foto: Edilson Dantas/21-11-2018
O ambientalista Alfredo Sirkis, exonerado do Forum Brasileiro de Mudanças Climaticas Foto: Edilson Dantas/21-11-2018

Por Ana Lucia Azevedo

Um dos mais conhecidos ambientalistas do Brasil, Alfredo Sirkis acordou hoje com a notícia de que havia sido exonerado do cargo de coordenador-geral do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas pelo presidente Jair Bolsonaro. Foi informado por Oswaldo Luchon, nomeado seu sucessor.

Embora o fórum seja uma entidade híbrida — composta por governo e sociedade civil —, cabe ao presidente a nomeação de seu coordenador-geral, cargo sem remuneração. Criado em 2000, o fórum é o único instrumento institucional da Política Nacional de Mudança do Clima, que tem à frente o próprio presidente. Em entrevista exclusiva ao GLOBO, Sirkis critica o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles , diz que o governo está “empenhado no desmonte das políticas de meio ambiente” e afirma que seguirá atuante.

O senhor já esperava a exoneração?

Não fiquei surpreso. Na verdade, acho um milagre ter permanecido no cargo até maio num governo empenhado no desmonte das políticas de meio ambiente. Tenho me oposto a medidas tomadas pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, como a desmoralização da fiscalização, o desmantelamento do Ibama e o combate do desmatamento. São medidas que estimulam o crime ambiental. Então, já esperava. Mas pretendo colaborar com o (Oswaldo) Luchon no que for preciso. Estou à disposição para contribuir.

Quais os maiores problemas ambientais do Brasil hoje?

São vários. O mais preocupante é o crescimento do desmatamento, um repique violento, feito pelo banditismo grileiro em áreas públicas, sejam elas terras devolutas ou unidades de conservação. Esse desmatamento não tem nada a ver com o agronegócio. É feito por criminosos travestidos de produtores rurais que querem especular com a terra e fazem forte lobby político. Com a fiscalização desmoralizada, quem vai pagar essa conta internacionalmente é agronegócio que produz, que será penalizado.

Qual a solução?

O Brasil precisa de uma Lava Jato do desmatamento. A Amazônia sofre com o desmatamento criminoso, feito por gente que usurpa terras públicas e deveria estar na cadeia. O Ibama poderia dar consultoria técnica, mas o trabalho de campo, de fiscalização e combate do desmatamento ilegal deveria estar na esfera do Ministério da Justiça, a cargo da Polícia Federal e do Ministério Público. É caso de polícia.

Que outros problemas vê?

A porteira aberta para a exploração de petróleo em Abrolhos é um deles. A paralisação de projetos de reflorestamento, outro. Há ainda a perda de recursos internacionais para o Fundo do Clima.

Como definiria o atual momento para a conservação do meio ambiente no país ?

Vivemos o maior retrocesso na área dos últimos 40 anos. Está sendo feito o desmantelamento de leis e políticas ambientais dos anos 1960, lá da época do regime militar. A conta virá para as mãos do setor produtivo do agronegócio exportador. E as mudanças climáticas já penalizam a todos nós, não se trata de questão de posição política, mas da realidade.

O GLOBO

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