De mulher sofrida a artista empoderada, por que Frida Kahlo se tornou ícone feminista?

Sessenta e cinco anos após morte da pintora mexicana, seu rosto estampa objetos e é usado por coletivos feministas. Pesquisadora explica como se dá identificação das mulheres com a artistaMorta há 65 anos, Frida Kahlo se tornou símbolo da quarta onda feminista Foto: Arte de Alvim

Morta há 65 anos, Frida Kahlo se tornou símbolo da quarta onda feminista Foto: Arte de Alvim

Por Isabela Aleixo

Mexicana, pintora, comunista e bissexual, Frida Kahlo teve sua vida retratada em livros, peças de teatro e filmes — além das ínumeras exposições de sua obra. Morta em 1954, aos 47 anos, ela se tornou símbolo do feminismo , inclusive no Brasil. Seu rosto estampa canecas, camisetas, cadernos e os mais diversos objetos — uma maneira de quem se identifica com a pintora expressar sua admiração. Mas como Frida, 65 anos após sua morte, se tornou um ícone feminista?

Para a mestre em Comunicação e Cultura pela UFRJ, Janaina Andrade, a ressignificação da imagem da pintora no Brasil tem raízes nas manifestações de mulheres:

— Em 2015, já havia um movimento de questionar quem eram as mulheres que fugiram do padrão. Perceberam, então, que Frida Kahlo foi uma delas. Exposições de sua obra e a explosão das mídias digitais, em que sua imagem foi associada aos coletivos feministas, também foram importantes. Acredito que uma série de discussões, até mesmo no ambiente acadêmico, permitiram que a imagem da Frida fosse ressignificada — explica a pesquisadora, para quem, a partir das manifestações pró-aborto e contra o ex-presidente da câmara Eduardo Cunha há uma virada na narrativa sobre Frida: — Ela passa de uma mulher sofrida para empoderada, uma líder de artistas mulheres que vivia a sua sexualidade.

O caráter autobiográfico das obras de Frida Kahlo é um fator de identificação e aproximação com as demandas do feminismo contemporâneo, segundo Janaína.

— Uma das características dessa onda recente do feminismo é o relato pessoal expresso em campanhas como o “meu primeiro assédio” e o #metoo, por exemplo. Isso é uma coisa muito presente na obra da Frida. Por isso, acredito que a ressignificação da imagem dela tem a ver com os relatos autobiográficos.

As roupas masculinas, a “monocelha” e o buço de Frida Kahlo são marcantes em seu visual e refletem a personalidade da artista. Nas obras, a mexicana retratava a si mesmo e, embora sua estética se aproximasse do Surrealismo, negava ser surrealista. Ela afirmava que não pintava sonhos, mas sua realidade.

— A Frida teve uma vida muito fora dos padrões. Ela se pintava e se retratava nua, menstruando após um aborto. Havia ainda o corpo fora do padrão e a sexualidade. Apesar do relacionamento abusivo com Diego Rivera, ela vivia os seus amores. Esses temas são tabus ainda hoje.  — afirma a pesquisadora.

Para Janaina, feministas veem em Frida Kahlo uma imagem de liberdade:

— Quando a Frida é apropriada pelos coletivos feministas, eles a estão vinculando a um símbolo de força, de liberdade feminina e de ruptura com o corpo e a imagem fora do padrão. Ela não é só uma personagem, é autenticidade. Tem a ícone pop estampada nas canecas, mas a Frida dos coletivos feministas fala para quem se identifica com a história dela.

Frida Kahlo contraiu poliomelite aos 6 anos de idade. Aos 18, sofreu um acidente de bonde, que lhe obrigou a usar coletes ortopédicos, além de deixou com dores intensas para o resto da vida. Teve dois abortos espontâneos, viveu um relacionamento abusivo e conturbado com o também pintor Diego Rivera, que vivia relações extraconjugais, assim como ela. Frida foi redescoberta pelos movimentos feministas como símbolo de liberdade, como alguém que confrontou em seu modo de vida e em sua obra os padrões de gênero da época em que viveu.

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